LA hospital

Coloquei o braço que não estava ferido à volta do pescoço do Eric assim que ele me veio abrir a porta do carro e encostei a cara ao peito dele, fechando os olhos por um bocadinho. Sentia-me cansada e o braço doia tanto que parecia que já não era só o braço - Não deixes que liguem aos meus tios. - pedi com um suspiro. Não queria preocupar principalmente o Ben e tinha medo que acontecesse alguma coisa de grave, algo muito mais grave do que aquele tiro, algo como o Brian. Encostei a cabeça a ele de novo e só vi preto.

-Eu.. como é que eu posso impedir? Eu não posso... - olhei para Lilly quando a vi de olhos fechados e dei-lhe uma chapadinha, mas ela tinha desmaiado. Engoli em seco abanando a cabeça, quem quer que tivesse feito isto, se eu o apanhasse... Apertei o seu braço, já que ela estava inconsciente e não sentia dor e assim que entrei olhei em volta - ela foi... - já toda a gente vinha ter connosco, nem foi preciso continuar. - Não liguem a ninguém - disse a uma médica, que apenas me olhou enquanto me fazia deita-la numa maca. Fui atrás delas, mas essa mesma médica fez-me parar.
-Já voltamos para fazer perguntas. - juntei as sobrancelhas e assenti com a cabeça dando um passo para ir de novo atrás dela, mas ela fez-me parar tocando-me acidentalmente no peito. Cerrei o maxilar dobrando-lhe o dedo por puro reflexo.

Abri os olhos de repente quando senti a dor a voltar e fiz uma careta de dor, mordendo o interior da bochecha com força. Vi o Eric agarrado a uma enfermeira e suspirei baixinho, tentando levantar-me para me sentar - Deixe-o em paz. - pedi começando a tossir e a sentir a dor a aumentar - Eric.. - chamei baixinho olhando para ele - Vem comigo. - deixei que outra enfermeira me deitasse e antes de ouvir a resposta dele, voltei a não ver nada.

A medica deu um guincho que me fez estremecer e assim que ouvi Lilly a chamar por mim deitei-lhe um olharzinho de ódio e fui ter com ela, vendo que estava de novo adormecida. - Eu vou com ela, ela pediu, eu vou com ela. - a enfermeira semicerrou os olhos e olhou para a ferida fazendo um aceno de cabeça que me fez ir atrás dela à medida que andava. Agarrei na mão de Lilly enquanto íamos pelo corredor e suspirei ao de leve, ela tinha que ficar bem ou eu não me perdoava. Pelo menos tinha sido só no braço.

Fiz uma careta de dor quando senti a mexerem-me no braço que tinha ficado ferido e abri os olhos devagarinho, piscando-os várias vezes para me habituar de novo à luz. Assim que deixei de ver tudo a andar à volta, procurei pelo Eric e suspirei de alivio quando o vi no quarto onde eu estava. Odiava hospitais e sangue, principalmente o sangue, fazia lembrar-me delas. Virei a cara para a médica e fiz uma careta - É muito mau?
Ela sorriu-me e vi-a a pousar uma agulha e passado um bocadinho deixei de sentir a dor no braço - Apesar do sangue todo, não foi nada de muito grave. - assenti com a cabeça e deixei-me ficar sossegadinha na cama - A bala atravessou de um lado ao outro por isso vou só cozer e é melhor passares pelo menos cá a noite. Depois amanhã se estiver tudo bem já podes ir embora. - ela olhou meio de lado para o Eric - Tivemos de ligar à tua familia, é o normal.

Mandaram-me sentir num banco ao fundo do quarto e fiquei a brincar com os meus dedos, vendo de vez enquanto o telemóvel e as horas. A minha mãe não tinha dito nada e eu estava a ficar preocupado, mas não podia sair do hospital e deixa-la sozinha, apesar dela agora estar segura. Levantei o olhar quando ouvi Lilly a falar e suspirei de alívio, revirando logo de seguida os olhos quando a médica me olhou de lado - o que é que foi? - resmunguei e voltei a fazer o mesmo - parece que já não conta o que os desejos dos doentes. cruzei os braços ao peito, com cuidado e devagar, ficando encostado à cadeira a olhar para Lilly, estava à espera que ela saísse para me aproximar dela.

Mordi o lábio inferior quando ela disse que tinha ligado à minha familia e fechei os olhos. Ia morrer, completamente. A minha tia ia ficar completamente excitada porque era uma desculpa para o Eric passar mais tempo comigo mas... eu sentia que havia alguma coisa mal. Além do buraco que tinha no braço, claro.
- Já está. - disse a médica sorrindo - Agora vou só ligar-te o braço e amanhã se estiver tudo bem é só meter-te uma coisa* e tens de ter cuidado. - sorriu-me e saiu do quarto sem se quer olhar para o Eric.
Suspirei e olhei para o meu braço todo ligado e que ainda não me doia por causa da injeção - O que é que aconteceu entre vocês? Foi uma das tuas namoradas?

*coisa é sempre um nome sexy para se dar a algo que não te recordas o nome

Fiz-lhe uma careta quando ela foi embora e assim que a porta se fechou, fui ter com Lilly abanando a cabeça enquanto me ria, apesar de não ter piada, mas acho que estava feliz por ela ter acordado, só podia ser isso.
-Não, ela tocou-me onde não devia e eu quase que lhe parti um dedo. - fiz uma careta tirando-lhe o cabelo da cara - como é que te sentes?

Cheguei-me ligeiramente mais para o Eric assim que se veio sentar na minha cama e mordi o interior da bochecha quando me afastou o cabelo da cara. Desviei o olhar para o meu braço e encolhi o outro do braço bom - Estou bem, agora não me doi, é da anestesia. - olhei para ele e mordi o lábio inferior - Não precisas de ficar aqui, deves estar preocupado com a tua familia, podes ir, Eric.

Assenti com a cabeça quando disse que agora não lhe doía e abanei-a de seguida quando disse que podia ir. Não queria ir e estava a ser um cobarde, porque no fundo só não queria voltar sozinho para casa. Só desejava que eles estivessem bem. Olhei para a porta e respirei fundo - eu vou daqui a pouco, não vou deixar-te sozinha aqui, quando eles vierem eu vou. - mordi o lábio.

Mordi o lábio inferior e assenti com a cabeça. Abri a boca para lhe perguntar porque é que tinha ficado tão preocupado por causa de mim mas a minha tia apareceu a correr no quarto, estacando quando viu o Eric e nem tentou esconder o sorriso. Sorri quando vi o Ben a trepar para a minha cama e agarrar-se a mim com cuidado - Lilly.. estás bem? - perguntou muito baixinho. Assenti com a cabeça e dei-lhe um beijinho na testa, abraçando-o com o braço bom.
- Tens mais uma visita. - disse a minha tia com uma voz toda afetada - Estava lá em casa quando nos ligaram.
Oh não. Oh não não. Fechei os olhos com força quando ouvi uma voz à entrada do quarto - Amor? Oh meu deus não acredito que levaste um tiro Li. - o Brian parou a olhar para o Eric e piscou os olhos várias vezes - Olá, és um amigo da Lilly? - perguntou com um sorriso - Sou o Brian, o namorado dela.

Fiquei a olha-la quando senti que queria perguntar-me alguma coisa, mas a porta a abrir-se dispersou os pensamentos dos dois. Vi a sua tia sorrir que nem uma parva e abanei a cabeça para mim próprio, ela era pior que a minha mãe. Eu pedia desculpas a Lilly por pensar isto, mas ela era mesmo hipócrita. Uma gananciosa do pior. Apesar do seu sorriso, não tentei fazer uma cara feliz, já não era pessoa disso e não suportava pessoas que não conhecia. Apenas tentei esconder um sorriso quando vi o primo dela, Ben, acho eu, tentei subir a cama, ainda o ajudei, dando-lhe um empurrãozinho. Fiquei a olha-lo até ouvi outra voz. Amor? Fiz uma careta quando ouvi aquele... gajo que mais parecia... eu nem ia comentar ou ainda começava a rir quando não tinha graça nenhuma. A minha careta de desprezo tornou-se pior quando ele se apresentou como namorado. Fiquei durante uns segundos estático, para depois sentir a minha expressão ficar mais dura. Assenti com a cabeça para que ele soubesse que tinha ouvido e cerrei o maxilar. - Não, não lhe sou nada, só vim trazê-la - sim, sou noivo, adeus. Namorado? A sério Lilly? Se não fosse uma pessoa minimamente decente tinha dito estas palavras todas uma a uma, mas não queria arruinar a sua... vidinha insignificante. Virei-me de costas agarrando no meu casaco - como já estás acompanhada -virei-me para ela quando estava quase à porta - eu vou embora. - se ela falou, não a ouvi sequer, porque fechei a porta com força, fazendo um estrondo que se deve ter ouvido por todo o hospital.

Engoli em seco e pisquei os olhos várias vezes quando vi a cara do Eric. Era capaz de relembrar para sempre a cara dele. Senti o Ben a abraçar-me com mais força porque apesar de ele não perceber bem o que se estava a passar, sabia que havia ali qualquer coisa - Eric? - chamei baixinho quando ele se levantou mas ele não quis mais saber de mim. Eu merecia afinal... depois de tudo aquilo... devia ter-lhe contado. Suspirei quando o Brian se veio sentar no sitio onde o Eric tinha estado antes e esforcei-me para lhe sorrir.
- Estás bem? - perguntou-me ele com um sorriso - Ganhei o xadrez.
Assenti com a cabeça para lhe responder e tentei sorrir mais com a noticia mas só conseguia pensar no Eric.

Comecei a andar,tentando lembrar-me onde tinha estacionado o carro. Estava desorientado, tão desorientado como quando tinha tido alta no hospital, depois do que tinha acontecido. Quando saí à rua percebi que não era o mesmo, agora estava igual. Não valia a pena preocupar-nos. Abanei a cabeça para mim próprio e senti a mão de alguém agarrar-me no ombro. Rapidamente a tirei, encostando-a à parede, eu estava mesmo chateado, nunca na vida tinha estado tão chateado como agora. Era a médica de antes. - es..estás bem? - perguntou meio assustada, afastei-me bruscamente e continuei a andar.
-Estou óptimo - falei para mim enquanto saía do hospital, olhando para o a rua, procurando pelo meu jipe.

Eles continuavam todos a falar comigo mas eu não ouvia nada, só assentia com a cabeça e sorria. O Ben era o único que se limitava a abraçar-me e ficava em silêncio. A minha tia guinchava por causa do Eric e o Brian que era tão... tapadinho não percebia que ela estava a falar do meu noivo e continuava a relatar a experiência dele. Era namorada dele à tanto tempo e sempre tinha gostado daquele lado dele mas depois do Eric.. depois de o ter conhecido melhor, de perceber que ele me conseguia irritar e deixar-me louca por ele ao mesmo tempo, não conseguia pensar no Brian, só nele.. e na cara dele quando tinha saido dali - Preciso de descansar. - murmurei baixinho - Desculpem.

Assim que o encontrei aproximei-me dele, vendo que a pintura estava desfeita, assim como a porta do jipe. Não toquei na bala, que tinha ido parar ali, e dei a volta até entrar no lugar do condutor, arrepiando-me quando vi o sangue no lugar onde ela tinha estado sentada e fechei os olhos batendo com força com a testa no volante - que estúpido, que burro - por um lado sentia que era capaz de partir tudo, mas por outro parecia que nem tinha vontade. Não sabia porque é que isto me estava a afectar tanto mas... abanei a cabeça para deixar de pensar naquilo e arranquei em direcção a casa. Precisava de garantir que todos estavam bem e só depois tratava de mim.

Virei ligeiramente a cara quando o Brian se veio despedir de mim, pelo que ele me beijou a bochecha e não os lábios e ele nem se importou. Ele era mesmo assim, e eu até antes.. gostava disso.. agora simplesmente o via como um rapaz dos meus amigos. Um qualquer, não o meu namorado, não como o Eric me fazia sentir. A minha tia nem se dignou a despedir-se, saindo a falar sobre o Eric e a saida dele. O Ben queria ficar comigo mas sabia que não podia. Suspirou e olhou para mim - Fica boa para amanhã ires para casa. - assenti com a cabeça e sorri-lhe - Adoro-te.
- Eu também. - murmurei-lhe. Assim que ele fechou a porta e fiquei sozinha no quarto, comecei a chorar.

Não conseguia parar de pensar no outro gajo, namorado? Mas como é que ela podia ter namorado? Porque é que ela não me tinha dito? É que, eu podia não ser um santinho, mas gostava de saber se as gajas com quem eu andava tinham ou não namorados -Não - apertei o volante e abri muito os olhos apertando o acelerador, engolindo em seco - nem penses Eric, é que nem penses - parei o jipe e respirei fundo, estava em casa finalmente. Olhei para o carro da polícia, que estava lá fora. A minha mãe veio a correr ter comigo assim que eu saí do carro. Fiquei abraçado a ela mais tempo que o normal, pelo que ela quando se afastou ficou a olhar-me.
-Como é que ela está? - perguntou preocupada. Cerrei o maxilar e encolhi os ombros.
-Óptima - olhei para um polícia e apontei para a bala que ainda estava na porta.

Limpei as bochechas aos lençóis assim que a médica apareceu e sorriu levemente quando me viu - Não te preocupes, já vi coisas piores. - encolhi os ombros e agarrei num lenço para me assoar - É por causa daquele rapaz? - vi-a a esfregar o dedo e sentou-se na ponta da minha cama - É teu namorado?
Ri-me com a pergunta dela e abanei a cabeça - É o meu noivo. - ela arregalou os olhos, tinha a certeza que não percebia nada, pois, nem eu - A pessoa com quem eu vou ser obrigada a casar e por quem acho que sinto alguma coisa e que acabou de saber que eu tenho um namorado. - agarrei num lenço que ela me estendeu e passei-o pelas bochechas que ficaram molhadas de novo - Já ouviu pior que isto? - ela abanou a cabeça e antes de eu puder fazer o que fosse, ela abraçou-me.

Quando acordei no dia seguinte, estava a médica a entrar no meu quarto. Sorriu-me ligeiramente e por momentos pareceu a minha mãe. Se calhar era eu que estava a dar em maluca mas parecia ela, por causa daquele sorriso.
- Como é que te sentes? - encolhi os ombros, bem, o ombro bom e sentei-me na cama. Ela aproximou-se e tirou um pouco o adesivo que eu tinha no braço para ver como é que a ferida estava - Vais ficar com uma pequena marca no braço mas nada de mais. Não o esforces por agora, está bem? E se sentires dores ou vires que algo não está bem, vem cá o mais rápido possivel. - assenti com a cabeça e deixei-me estar sossegada enquanto ela me colocava a tala à volta do braço. Mexi os dedos que era a única coisa que dava e coloquei as pernas fora da cama. Estava com a minha roupa ainda apesar de estar cheia de sangue.
- Obrigada. - sorri-lhe levemente e sai dali o mais rápido possivel. Precisava de espairecer. Longe de casa.

Sentia já o meu corpo mais acordado, mas não o suficiente para me conseguir mexer. Sentia o meu corpo tremido. Deveria estar na ambulância. Quando senti mais turbulência, percebi que me deviam estar a levar para dentro do hospital. Consegui abrir ligeiramente a boca, que estava completamente seca. alguém me dê forças. E não é que consegui reunir as poucas forças que me restavam, para fazer algo? Senti-me apto para dizer algo, por isso aproveitei - Caroline.. Amor.. - Disse da melhor forma que pude, embora fosse bastante baixo