Cozinha

Mordi o lábio quando a ouvi falar e agarrei numa t-shirt virando-me depois para ela - eu só quero estar contigo e saber que nenhum porco se vai deitar contigo, tratar-te mal e abusar de ti. Tu não és como as outras, tu não gostas do que fazes, mas às vezes... devias deixar-me ajudar-te mais. Eu não gosto Milla e o... aquele nojento - abanei a cabeça meio irritado - se ele te toca - murmurei entredentes abanando a cabeça.

Olhei-o quando se virou para mim e ouvi cada palavra sua com atenção, mordendo a parte de dentro da bochecha com força à medida que ele falava. Eu sabia que ele só queria ajudar-me a sair dali, e eu sabia que ele tinha dinheiro suficiente para isso, mas eu não queria, eu ia conseguir sem ser preciso ele gastar mais dinheiro comigo.
- Amor..- toquei-lhe com um dedo no maxilar contraído.- eu não vou estar com mais ninguém.- abanei a cabeça.- tu vais comigo e eu não vou precisar de estar com mais nenhum.- aproximei-me deles.- tu vais ficar comigo a noite toda, não é? Não vai acontecer nada.- encolhi ligeiramente os ombros.- e quanto a isso de me ajudares, já falámos sobre isso.- suspirei baixinho, decidindo não falar mais sobre esse assunto.- vai ficar tudo bem, eu vou estar contigo.- puxei-o para mim.- tem calma Fly.

Abanei a cabeça com um suspiro e deixei a minha cabeça cair no seu ombro quando me voltou a abraçar. - Porque é que não arranjas outro emprego? - perguntei baixinho abraçando com força. - Se não aceitas o meu dinheiro, ao menos... deixavas-me tirar-te umas fotografias, eu envia-va para a agencia, se eles gostassem de ti - afastei-me dela para a olhar - se eles gostassem de ti podias ser uma modelo, tu tens altura e peso para isso. Ainda por cima és linda - murmurei. - Eu tenho a acerteza que te aceitavam - disse num tom mais baixo.

Levei as mãos ao seu cabelo quando ele me abraçou e fiz festinhas no mesmo com as pontinhas dos dedos, suspirando mal ele começou com a mesma conversa de sempre. Ele não percebia, eu não podia sair dali.
- Fly..- suspirei, tentando fazer com que parasse de falar, mas isso não resultou, por isso, limitei-me a esperar que acabasse.- eu não posso sair dali.- mordi o lábio com força.- o Rick ia dar em doido se eu o fizesse, eu não posso..- abanei a cabeça, baixando o olhar para os meus pés.- eu juro que eu quero, eu quero...mas eu não posso, ele não me deixa.- engoli em seco.- eu tentei uma vez, logo no início, mas ele veio atrás de mim e obrigou-me a voltar, ele diz que eu chamo os clientes.- senti o meu coração apertar-se.- eu não posso. - passei uma mão pela bochecha. Eu odiava lembrar-me que não era a pessoa indicada para ele.- e além disso, as minhas irmãs...eu preciso de ganhar dinheiro para elas.- senti a minha voz falhar, por causa das lágrimas que se acumulavam nos meus olhos e continuei de olhar posto nos meus pés.

-Sim, eu sei isso tudo - disse mal ela suspirou o meu nome, eu sabia tudo o que ela ia dizer, e estava certo, só me surpreendi com uma coisa, que me fez levantar a cabeça para a olhar. - Tu chamas os clientes? - perguntei - chamavas os clientes - corrigia - porque pelo menos que eu me lembre não chamas mais. O que é que esses clientes fazem agora sem ti? - perguntei cerrando o maxilar e os punhos, mas tive que acalmar a minha raiva ao ouvi-la dizer que tinha irmãs. - Porque é que eu não sabia disso, elas não têm outra pessoa? - perguntei num tom mais calmo e baixo.

Levantei o olhar para ele assim que o senti ficar ainda mais irritado e engoli em seco. Eu acho que em vez de melhorar só piorava.
- Eu chamava os clientes antes de estar contigo.- murmurei.- eu quase nunca tinha nada com eles, mas eles iam lá para me ver dançar.- tentei explicar-me.- mas agora já não vão, porque eu estou contigo, e ainda bem.- mordi a parte de dentro da minha bochecha, sentindo o meu coração apertar-se quando percebi que íamos falar das minhas irmãs.- eu contei-te que tinha duas irmãs.- murmurei, largando-o para começar a brincar com os meus dedos.- os meus pais morreram e como eu não tinha condições, tive de as deixar a cargo dos meus tios, mas o dinheiro não dá para tudo, eles também têm as despesas deles.- senti as lágrimas picarem-me nos olhos.- não fiques chateado comigo.- pedi muito baixinho.- eu tornava-me numa namorada melhor se conseguisse, eu saía dali se conseguisse, mas eu estou de mãos e pés atados.- escondi a minha cara por entre os cabelos assim que algumas lágrimas escaparam.- eu não consigo.

Mordi o lábio com força enquanto a ouvia, sim eu lembrava-me de quando ela tinha falado das irmãs, mas não sabia bem o resto da história. Senti o meu corpo arrepiar-se quando me lembrei porque é que os seus pais tinham morrido e abanei a cabeça. Respirei fundo para me acalmar aproximando-se do seu corpo para a abraçar - está tudo bem - murmurei - eu só quero que te livres daquilo - disse baixinho.

Passei as costas das mãos pelas bochechas, para limpar as lágrimas que tinham escapado e para impedir as outras de saírem. Não queria chorar, não queria dar parte fraca. Mas elas eram a minha parte fraca, elas e ele. Não podia ficar sem nenhum deles. Funguei baixinho, sentindo o meu corpo nos seus braços e abracei-me a ele também, apertando-o contra mim com força.
- Eu sei, eu também quero..- disse baixinho, escondendo a cara no seu pescoço, sentindo o meu queixo tremer.- não te chateies comigo, eu juro que eu quero.- voltei a repetir. Sentia-me tão bebé e tinha o coração tão apertadinho que chegava a custar respirar. Eu sabia que ele não gostava do que eu fazia, nem eu gostava, mas não queria que isso desse cabo de tudo.

Não tinha medo do que os media poderiam dizer por mim, mas sim por ela. Não queria que ela ficasse conhecida como uma prostituta, porque eu não tinha problemas nenhuns de ouvir uma pessoa apontar para mim e ouvir um comentário do tipo "é aquele que anda com uma prostituta". O problema era mesmo a palavra e ser ela a ouvi-lo. Não queria que lhe chamassem nomes e pensassem mal dela, porque não a conheciam. - Eu não te vou pressionar - murmurei - mas vou acabar por te ajudar. Quer queiras quer não.

Eu não era de todo a rapariga perfeita. Nunca tinha tido um namorado, nunca tinha amado ninguém. Até aí tudo bem, não me parecia um problema, mas tudo começava quando eu me lembrava do que era. Eu era aquela que ia para a cama com todos. Aquela que dormia de dia para ir trabalhar de noite e que recebia dinheiro para fazer sexo. Eu era nojenta, eu era tudo aquilo que um rapaz não devia querer. Eu era tudo aquilo que ele não devia querer, mas mais do que isso, eu era tudo aquilo que ele menos merecia. Mas eu gostava dele, eu gostava tanto dele e era tão egoísta por não me afastar, por ter deixado que tudo chegasse ao ponto a que tinha chegado, eu era tão burra, mas estava tão apaixonada. Assenti devagarinho com a cabeça ao que ele disse e comecei a afastar-me devagarinho, não queria falar mais naquilo. Levantei-me, passando as mãos pelas bochechas e fui pegar numa roupa qualquer, sempre em silêncio.
- Eu vou tomar banho.- disse baixinho, ao fim de algum tempo.

Olhei para o chão quando ela se afastou. Eu sabia o que ela pensava, não era boa para mim e tudo mais. Eu sabia isso tudo, bastava olha-la. Ela não era transparente para todos, mas era para mim. Levantei-me depois de ela dizer que ia tomar banho e agarrei-lhe na cintura puxando-a para mim - posso ir contigo? - perguntei.

O meu coração apertou-se mal senti as mãos de Fly na minha cintura e engoli em seco, sentindo um nó formar-se na minha garganta. Mas não, eu não ia chorar. Apertei o vestido contra o meu corpo e inconscientemente, cheguei o meu corpo mais para perto do seu. Encolhi os ombros face à sua pergunta e baixei o olhar para o vestido, mordiscando o meu lábio.
- Se quiseres..- murmurei baixinho.

Engoli em seco puxando-a contra mim, eu tinha começado isto, eu ia acabar isto. Deixa-la neste estado era mau demais para mim.
-Milla - murmurei baixinho - eu amo-te, eu só quero que deixes de ter uma vida que não gostas. Não é por mais nada - passei as mãos pelas suas costas quando a puxei para me abraçar e fechei os olhos com um suspiro.

O nó que já se tinha formado na minha garganta ficou ainda maior quando me puxou ainda mais contra o seu corpo. Mordi o lábio com força, sentindo o meu queixo tremer, mas abanei a cabeça, proibindo as lágrimas de caírem. Eu não ia chorar. Deixei o vestido cair no chão, agarrando-me depois ao seu corpo e escondi a cara no seu pescoço, apertando a sua camisola nas minhas mãos.
- Eu não sirvo para ti..- ofeguei, sentindo o meu coração apertar-se só de pensar na minha vida sem ele.- toda a gente sabe o que é que eu sou, quando eles descobrirem que namoras comigo...- abanei a cabeça, fungando assim que as lágrimas acabaram mesmo por cair e fechei os olhos com força.- eu só te vou trazer problemas.

Encostei a cabeça ao seu ombro quando retribuiu o abraço e suspirei, apertando-a com bastante força. Fechei os olhos beijando-lhe o pescoço e só me afastei quando disse que não servia para mim. Comecei a abanar a cabeça tocando-lhe na bochecha, fazendo-a com que ela me olhasse - eles vão descobrir e tu não tens que estar preocupada comigo, a mim não me afecta minimamente. Eu não tenho vergonha de te amar.

Se as lágrimas já me estavam a escapar, escaparam ainda mais e com mais intensidade depois de o ouvir falar. Nós não nos conhecíamos há muito tempo, mas no pouco tempo que nos conhecíamos, já sabíamos o suficiente um sobre o outro e eu já o amava o suficiente para saber que já nada ia ser igual sem ele. Eu estava completa e irremediavelmente apaixonada por ele. Funguei baixinho enquanto tentava não olhar durante muito tempo para ele e passei as costas das mãos pelas bochechas.
- Não te vais fartar? - perguntei baixinho.- não te vais fartar de ser visto como aquele que namora com uma puta? - nem me importei com a linguagem, não tinha outro nome.- eles vão-te apontar o dedo e..tu és modelo, és conhecido, e eu..- abanei a cabeça, sentindo o meu queixo tremer e baixei ligeiramente o olhar de novo.

Eu estava a passar-me por dentro, só me apetecia partir alguma coisa, gritar e arrancar cabelos. Sentia-me incapaz. Não conseguia fazer nada por ela e isso era frustrante. Mas eu podia, ela é que não me deixava. Não lhe ia suplicar para que me deixasse, o tempo de pedidos já tinha passado, desta vez ia mesmo fazê-lo.
Abanei a cabeça às suas perguntas agarrando na sua cara para que me olhasse de uma vez por todas- eu não me importo, nunca me interessou o que as outras pessoas pensavam, não me prejudica o trabalho assim tanto como pensas. Não vou ser despedido por namorar contigo. Eu não quero saber, pára de estar com esses macacos na cabeça.

Eu estava a sentir-me tão pequenina naquele momento. Não conseguia tirar da cabeça que ele podia deixar-me por causa da vida que eu levava. Eu não ia aguentar, eu não ia suportar ficar sem ele, não depois de tudo. Fui obrigada a olhá-lo quando me agarrou na cara e mordi a parte de dentro da minha bochecha com força, tentando parar de chorar. Assenti com a cabeça a tudo o que disse e agarrei na sua camisola com força, abraçando-o com força.
- Eu amo-te.- funguei.- não posso ficar sem ti.

-Eu também Milla. - Suspirei encostando o meu queixo na sua cabeça, fechando os olhos enquanto a abraçava com força - vai tomar banho - murmurei baixando o olhar para ela - vai arranjar-te, eu vou fazer o mesmo - comecei a afastar-me, indo buscar uma toalha qualquer.

Fechei os olhos com um suspirinho, enquanto me deixava estar abraçada ao seu corpo e senti o meu coração ficar mais levezinho ao ouvi-lo dizer que também me amava. Era bom ouvi-lo, mesmo muito bom. Eu tinha medo, era impossível de esconder e controlar, ele era demasiado bom para ser verdade, e eu tinha medo de não estar à altura. Mas também era egoísta demais para o conseguir ver com outra pessoa, mesmo que fosse alguém melhor do que eu. Juntei as sobrancelhas quando me disse para ir tomar banho e não me mexi, ficando a olhar para ele.
- Não vens comigo? - perguntei baixinho.- eu pensei que vinhas.- mordisquei o meu lábio e acabei por esticar uma mão para ele.- anda, não quero ir sozinha.

Apontei para a minha toalha e encolhi os ombros - estou com uma toalha, o teu apartamento não tem piscina por isso sim, vou contigo - disse com um meio sorriso - só estava a mandar-te ir - disse abrindo a porta da casa de banho para que ela entrasse seguida de mim. - Ainda temos tempo para namorar não temos?

Semicerrei ligeiramente os olhos quando ele pareceu estar a ''gozar'' comigo, mas rapidamente lhe dirigi um sorriso, entrando à sua frente na casa de banho assim que abriu a porta. Comecei por despir a camisola que tinha vestida e olhei-o por cima do ombro, assentindo com a cabeça à sua pergunta.
- Claro que temos.- disse com um sorrisinho, puxando-o para mim.- vamos ter sempre tempo para namorar.

Ri-me com o eu seu olhar e fiquei a vê-la despir-se. Não era por mal, eu ficava assim mas nem era de propósito. Tirei a minha t-shirt e os calções que tinha vestido, assim como os boxers e só me aproximei dela para a ajudar a tirar o soutien. - Vamos? - perguntei baixinho passando os meus lábios pelos seus, beijando-a, ao mesmo tempo que a encostava a mim.

Continuei a olhá-lo por cima do ombro, rindo-me baixinho por estar especado a olhar para mim mas nem disse nada, continuando a despir-me. Mordi o lábio assim que senti as suas mãos no meu soutien e deixei que o desapertasse, vendo-o depois a cair no chão. Virei-me para ele, correspondendo ao seu beijo e rodeei o seu pescoço com os meus braços, assentindo com a cabeça à sua pergunta.
- Claro que sim.- rocei os meus lábios de novo nos seus, encostando-me mais a ele.- namorar contigo é demasiado irresistível.- dei-lhe um beijinho com um sorriso fofo.

Fechei os olhos assim que senti os seus lábios roçarem nos seus e comecei a encaminha-la na direcção da banheira abrindo a torneira. - Assim vamos aproveitar o tempo - disse contra os seus lábios passando as mãos das suas costas para o seu rabo, encostando-a totalmente a mim. Estar com ela fazia-me bem, fazia-me não pensar em nada.