Praia

Olhei para o local onde ia decorrer o jantar. Já não era na praia, apesar de ainda estarmos perto, mas era igualmente requintado e assustador. Nunca vida imaginara que poderia vir a estar num sítio como aquele, mas também nunca me passara pela cabeça vir a trabalhar no sítio onde trabalhava portanto, acho que tudo era possível. Soltei um pequeno suspiro, não me permitindo prolongar aqueles pensamentos, assim que senti a presença de Fly ao meu lado e, depois de ouvir o seu pedido, limitei-me a desviar o olhar na sua direcção enquanto assentia e enlaçava o meu braço no seu.
- Para onde é que haveria de ir? - perguntei de forma retórica, começando a andar ao seu lado e esforcei-me por mudar a minha expressão, tornando-a o mais animada possível. Mesmo que Gabriella me aparecesse à frente, não lhe ia dar o prazer de ter arruinado a nossa noite.

-Porque... - desci o olhar para o chão, rapidamente o levantando por causa das fotos. - Eu tenho medo. Eu não consigo estar aqui sozinho sem ti. - Isto era uma prova para mim que eu falharia se ela não estivesse ao meu lado. Era egoísta da minha parte pedir-lhe para ficar comigo, mas isso era tudo o que eu era. Apertei-lhe a mão, olhando em volta numa tentativa de distrair os olhos e só parei quando a minha mãe fez o mesmo.
- Vão-se sentar, queridos. As pessoas ainda não chegaram todas. - Esfreguei o meu estômago, assentindo-lhe, para a levar para a zona dos sofás, a um canto, e respirei fundo.

Se eu já me estava a sentir mal por as palavras de Gabriella estarem a afetar o meu comportamento, pior fiquei ao perceber que a disposição de Fly também estava a ser afetada. Por muito difícil e complicado que fosse fingir que estava tudo bem, eu não podia deixar que aquilo acontecesse. A última coisa que queria que acontecesse era que a noite de Fly, sim, porque apesar de ele não gostar, aquela era a sua noite, a sua noite de sucesso, fosse arruinada. Soltei um leve suspiro face aos meus pensamentos, ao mesmo tempo que me tentava convencer de que as minhas capacidades de fingir uma coisa que não estava a sentir não eram assim tão más, mas rapidamente me foquei em Fly, assim que o ouvi responder à minha pergunta. Juntei as sobrancelhas de imediato, sentindo o meu coração apertar-se face ao seu tom de voz aflito e só não lhe respondi de imediato porque fomos interrompidos, não só pelo flash incessante das câmaras mas também pela sua mãe. Forcei-me a esboçar-lhe um leve sorriso, apertando ao de leve o braço de Fly debaixo da minha mão e apressei-me a segui-lo logo de seguida, parando apenas quando chegámos junto de uns sofás.
- Fly, olha para mim..- comecei, puxando-lhe o braço para que se sentasse ao meu lado.- eu não vou a lado nenhum.- assegurei, tocando-lhe ao de leve com a ponta do meu dedo no seu queixo para que me olhasse.- tu sabes que por muitas coisas que aconteçam, eu não consigo deixar-te.- encolhi os ombros, focando o meu olhar no seu.- nem quero.- forcei um leve sorriso, esticando ao mesmo tempo a cabeça até conseguir roçar os meus lábios nos seus.- desculpa, eu sei que me estou a deixar afetar por ela.- suspirei baixinho, encostando também a minha testa à sua.- mas eu prometo que a partir de agora vamos esquecer o que aconteceu e aproveitar o resto da noite.- subi o meu olhar até ao seu, ainda com os nossos lábios colados.- pode ser? Eu prometo que não vou a lado nenhum se me prometeres que te animas e me ajudas a ignorá-la.