Praia

Olhei-a quando a senti puxar-me a camisola e senti os seus lábios tocarem nos meus. Fechei os olhos agarrando-a pouco depois e puxei-a mais para mim passando as mãos pelas suas costas enquanto a beijava. - Acho que vou perdoar a onda - murmurei ainda de olhos fechados. Levantei a cabeça e fiz uma careta quando vi uma luz, que me fez olhar em volta. - Vamos - murmurei puxando-a até ao carro e, antes que lhe acontecesse mais alguma coisa por minha causa, abri-lhe a porta e enfiei-a lá dentro, indo depois eu. Podia nem ter sido nada, eu andava paranóico, mas também podia ter sido alguma coisa.

Ri-me contra os lábios do Eric quando ele disse que ia perdoar a onda e ia voltar a beijá-lo mas fui impedida assim que ele disse para irmos embora e me ajudou a entrar no carro. Meti o cinto de segurança e assim que ele também entrou, olhei para ele enquanto mordia o lábio inferior - Podes levar-me a casa? Não posso deixar o Ben lá sozinho. - suspirei - Quer dizer, a minha tia está lá mas ela tem maluqueiras e é melhor se eu estiver lá também.

Olhei-a quando me pediu para levar a casa e assenti com a cabeça metendo o cinto de segurança. Liguei o carro e arranquei dali. - Sim, eu levo-te a casa, não te preocupes - disse-lhe com um meio sorriso - também tenho que ir para a minha, a minha mãe ja me ligou umas cinco vezes - encolhi os ombros.

- Obrigada. - agradeci com um sorriso - Vais ter de ir à tua despedida de solteiro. - disse com um encolher de ombros - Bebidas à pala, striperes, vais adorar. - belisquei-lhe a bochecha com uma gargalhada apesar de não achar muita graça mas pronto, não tinha nada a ver com isso e eu é que não ia fazer despedida de solteira nenhuma. Não tinha paciência para isso - Continuo a imaginar-te de fato, acho que vou pedir que me tragam uma fotografia antes de ir para o altar.

Revirei os olhos quando ela me beliscou a bochecha e encostei-me ao banco quando parei em casa dela, que era relativamente perto - eu não vou ficar muito tempo na discoteca, vou só lá fazer-lhes a vontade antes que me obriguem a sair de casa - suspirei - diz ao teu primo que a minha irmã tem saudades - disse com um sorriso e um revirar de olhos.

- Diverte-te. - belisquei-lhe novamente a bochecha e cheguei-me para ele até o conseguir beijar na mesma. Ri-me com o que o Eric disse e assenti com a cabeça - Eu dou o recado e podes dizer à Rachel que ele também está a morrer de saudades dela. - sorri por causa daqueles dois pirralhos apaixonados e abri a porta do carro para sair do mesmo - Até amanhã e obrigada por me trazeres. - agradeci com um sorriso antes de fechar a porta e caminhar até casa.

Revirei os olhos com um sorriso e antes que pudesse dizer o que quer que fosse já ela estava a caminhar para casa. Suspirei agarrando-me ao volante e segui até casa metendo o meu carro pela primeira vez na garagem para não ter que passar pela rua e entrar na porta da frente. Subi as escadas da garagem até à sala de estar onde estava toda a gente, ou quase toda a gente e apenas passei por eles com um aceno de cabeça, enfiando-me na casa de banho do meu quarto para tomar um banho, visto que já estava a regelar.

Assim que entrámos havia uma enorme placa com o nome do evento em que uma das caras era eu. Claro, se não fosse sobre mim não era tão importante. - Queres tirar comigo? - perguntei. Apesar de a ir apresentar como minha namorada não a ia obrigar a nada, ela ia fazer o que quisesse e se se arrepende-se na hora em que eu ia dizer "ela é minha namorada" eu não me ia importar. Olhei em volta vendo que os fotógrafos estavam à espera da nossa decisão e disse olá à minha mãe quando a vi ao fundo e a dizer que estávamos os dois bens em gestos.

Depois de Fly ter mostrado as nossas identificações e os nossos convites, a porta da festa abriu-se de imediato, dando-nos aos dois o acesso para entrarmos. E, assim que o fizemos, o meu olhar prendeu-se em todos aquele espaço bem decorado e cheio de fotos de Fly. Sorri, ao olhar para uma que estava numa placa enorme com o nome do evento, e só percebi que estava completamente derretida a olhar para ela quando a voz de Fly me distraiu. Juntei as sobrancelhas, olhando para ele e só depois de desviar o olhar para os fotógrafos é que percebi a sua pergunta. Se eu estava ali com ele, ia aproveitar tudo o que havia para podermos fazer juntos.
- Quero.- assenti decidida, esboçando um sorriso e entrelacei os meus dedos nos seus, puxando-o para nos colocarmos à frente da placa. Eu não tinha jeito para fotografias, raramente as tirava, mas era primeira foto que íamos tirar juntos, eu ia fazer um esforço.

Sorri agarrando-lhe na mão e dei-lhe um beijinho na mesma. Assim que nos metemos à frente da placa, dando espaço à minha cara para também lá ficar, agarrei Camilla pela cintura e esperei que os flashes começassem. Não foi por muito tempo, visto que eles não eram paparazzis, e assim que já acabou, cumprimentei-os com um sorriso e abanar de cabeça, e puxei Mila para mim, para que fossemos até ao centro do evento. Eu tinha que cumprimentar imensas pessoas visto que vinham todos ter comigo, mas naquele momento não era isso o mais importante, o importante era apenas chegar à minha mãe que me ajudava sempre nestas situações. Sim, porque aqui não havia só bebida. - Se estás à espera de um anuncio oficial podes estar descansada, basta aparecer contigo, dar um beijinhos, para eles assumirem isso - decidi esclarecer Camilla visto que ela parecia demasiado tensa.

Encostei o meu corpo ao de Fly, enquanto esperava que nos fotografassem e, assim que o começaram a fazer, deixei que o sorriso no meu rosto aumentasse. Quando terminou, dirigi-lhes apenas um leve sorriso, deixando que Fly me conduzisse para onde ele quisesse, tendo de parar por vezes, quando as pessoas se aproximavam para o cumprimentar. Aos poucos conseguia sentir o meu nervosismo a desaparecer, ainda que não por completo. Só de saber que tanto ele como a sua mãe estavam ali, eu conseguia ficar mais descansada. Cumprimentei um dos homens com quem Fly falara, assim que ele também me cumprimentou a mim e virei-me depois para o meu namorado, juntando ligeiramente as sobrancelhas com o que disse.
- Isso quer dizer que não me vais apresentar como tua namorada? - perguntei baixinho, para que não nos ouvissem.- pensei que era isso que querias.

Virei-me para ela assim que me falou e juntei as sobrancelhas - e eu estou a fazê-lo - disse agarrando-lhe em ambas as mãos - mas não foi isso que eu quis dizer. Eu não vou dizer nada aqui - apontei para o sítio onde estávamos - vamos ter um jantar num restaurante aqui perto, com menos pessoas, pessoas mais importantes, fotógrafos e alguns jornalistas que me vão promover e só aí é que vou ter que falar com toda a gente - encolhi os ombros - aí é que vai ser chato, mas pelo menos vou apresentar-te um por um a todos - beijei-lhe os lábios passando os dedos pelo seu cabelo loiro - Por isso descansa, aqui podes estar à vontade. - se bem que agora que a tinha beijado já toda a gente sabia a verdade. A minha mãe apareceu ao nosso lado, toda nervosa e apressada.
-Estas pessoas são todas loucas - resmungou ela sorrindo depois para Camilla - Olá Camilla, está tudo bem? - perguntou-lhe e assim que ela lhe respondeu virou-se para mim - eu vou andando para casa, trago-te um smoking para o jantar, está bem? - perguntou-me ajeitando-me a camisola. Apesar de não querer smoking encolhi os ombros.
-Mas... tens que ir para casa? - perguntei.
-Sim Flynn, eu tenho trabalho e só vim para ver como estava a correr. - disse ela dando um beijinho a mim e outro a Camilla.
-Hmm, está bem - e ela já tinha ido.

Agora estava confusa. Eu não queria que Fly se sentisse na obrigação de me apresentar como sua namorada, aliás, eu tinha sido a primeira a ficar pé atrás perante toda esta situação, mas agora, depois do que ele tinha dito, parecia que tínhamos trocado de posições.
Mordisquei a parte de dentro da minha bochecha de forma distraída, baixando o olhar para as minhas mãos assim que senti Fly agarrar-me nas mesmas e fiquei calada durante todo o tempo em que falou, só assentindo quando percebi que os meus pensamentos não estavam certos. Eu não o estava a obrigar a nada, pois não? Ele ia apresentar-me como sua namorada porque era isso que queria, certo?
- Está bem.- murmurei baixinho.- eu só não quero que te sintas obrigado a nada.- acabei por dizer, tendo de me calar logo de seguida para corresponder ao seu beijo. Algo me dizia que mesmo que Fly não quisesse, depois daquele beijo era quase impossível não se saber que eu era sua namorada. Endireitei-me ao seu lado, passando ambas as mãos pelo cabelo, para ter a certeza de que continuava tudo no sítio e desviei depois o olhar para a sua mãe assim que apareceu ao meu lado. Cumprimentei-a com um sorriso, assentindo com a cabeça à sua pergunta e  nem tive tempo de dizer mais nada visto que, pouco depois de ter chegado já se estava a ir embora de novo. Era a primeira vez que assistia a uma versão tão atarefada da mãe de Fly. Olhei para trás por cima do ombro, vendo-a ir-se embora e quando voltei a minha atenção de novo para Fly, não houve como não reparar na sua mudança de expressão. Parecia tenso.
- O que se passa? Ficaste nervoso de repente..- constatei num tom calmo e baixo, aproximando-me dele.- foi por a tua mãe ter ido embora?

-Shhh - pedi depois de a beijar e passei os dedos pelas suas bochechas - eu não estou a ser obrigado a nada - murmurei baixinho com um sorriso. Depois de tudo o que tínhamos passado, eu sabia que amava Milla e não queria saber qual era o seu trabalho ou se nos iam criticar. Só queria que ela estivesse bem com isso, a única obrigada aqui poderia ser ela, mas agora que ali estávamos já parecia um pouco tarde demais. - Mas tu não estás pois não? - acabei por perguntar. - quer dizer... nós não falámos muito bem nisto, mas tu pensaste que vão especular sobre ti e sobre a tua família, certo? - perguntei. Engoli em seco levantando o olhar para ela depois de me ter perguntado o que se passava. Assenti à sua segunda pergunta e agarrei-lhe na mão respondendo algo que me contradizia mas que não deixava de ser verdade - eu estou bem. - garanti.

Apesar de eu já suspeitar, parte de mim ficou mais descansada assim que Fly confirmou que tudo o que estava a acontecer era porque ele queria, porque ele queria mesmo que todos me conhecessem como sua namorada. E se ele queria, eu também queria. Sim, eu tinha medo, medo do que pudessem descobrir sobre mim e as consequências que isso pudesse trazer para Fly. Mas duma coisa eu tinha a certeza, não podia deixar que o medo me impedisse de fazer o que queria, e naquele momento, eu queria estar com ele e queria que toda a gente soubesse disso. Despertei dos meus pensamentos assim que ouvi a sua pergunta, como que a ler-me os pensamentos e neguei de forma imediata.
- Não.- murmurei.- eu quero que as pessoas saibam.- assegurei.- só tenho medo dos problemas que isto te possa trazer.- encolhi os ombros.- mas não temos que falar nisto agora.- forcei um leve sorriso.- vamos aproveitar que aqui estamos.- olhei em volta, reparando que estavam ali ainda mais pessoas do que as que já estavam quando tínhamos chegado. Voltei depois a concentrar em Fly, uma vez que estava à espera que me respondesse e assim que o fez, eu agarrei-lhe em ambas as mãos, ignorando por completo o que disse depois. Acho que já o conhecia o suficiente para saber o porquê de estar assim.- eu estou aqui contigo Fly.- disse baixinho, largando-lhe uma das mãos para lhe conseguir acariciar a bochecha.- vai correr tudo bem.

As únicas formas de alguém me vir a afetar era se tocassem no nome dela para dizerem mentiras sobre mim ou, até mesmo, sobre ela e, se perdesse algum emprego por causa disto, coisa que não ia acontecer. Não gostava de me armar, mas eu era bom e era bonito, as pessoas gostavam de mim porque tinha talento e era fotogénico até nas piores alturas. Não ia perder nada por causa da profissão dela. -Só me vai afetar se te afetar a ti- murmurei. Olhei em volta, tal como ela tinha feito, e engoli em seco. Só via pessoas que já não via há muito tempo e eu sabia o que elas andavam a fazer. - Esta festa está cheia de... - respirei fundo - merda - continuei não querendo dizer a palavra. - Desviei o olhar para ela quando me acariciou a bochecha e não resisti em alcançar os seus lábios. - tenho que ir começar a cumprimentar as pessoas - murmurei contra os seus lábios passando os dedos pela sua bochecha.

Limitei-me a assentir ao que Fly disse, não querendo prolongar muito mais aquele assunto. A única coisa que queria agora era desfrutar daquela festa, preferia deixar as preocupações para depois, caso fosse realmente preciso preocupar-me com algo. Quer dizer, eu não me queria preocupar com o que as pessoas poderiam vir a dizer sobre o nosso namoro, mas estava realmente preocupada com Fly, desde que a sua mãe tivera de ir embora que ele não parecia nada bem. E eu sabia o porquê. Há muito tempo que ele não vinha a este tipo de festas desde que..bem, desde que eu o tinha ajudado. Eu sabia como tudo isto era demasiado tentador para ele. Soltei um pequeno suspiro com o que disse, mantendo-me perto dele e continuei com as festinhas na sua bochecha, tentando que aquilo o acalmasse de alguma forma.
- Concentra-te em mim, pode ser? - pedi com um leve sorriso.- afinal, eu não me preparei toda para te estares a preocupar com as outras pessoas.- tentei brincar, para ver se ele ficava mais descontraído e assim que senti os seus lábios nos meus, rodeei o seu pescoço durante o curto espaço de tempo em que durou aquele beijo. Porém, e mesmo quando ele terminou, deixei os meus braços pousados sobre os seus ombros.- quem te manda seres uma vedeta? - gozei, com um ar divertido, dando-lhe um outro beijo, mas desta vez mais rápido.- vamos, eu vou contigo.- assenti, tendo de me afastar ligeiramente para lhe agarrar numa das mãos e entrelaçar os nossos dedos. Não queria que, por me ter ali com ele, Fly deixasse de fazer o que era suposto fazer naquele tipo de festas.

Eu sabia que tinha Camilla ao meu lado e que provavelmente assim era mais fácil recusar certos vícios que ainda tinha. Sim, porque eu podia estar sóbrio, mas a vontade ficava. Um obeso que está de dieta não deixa de gostar de fast food. No entanto, se ela se afastasse, nem que fosse por uns momentos eu sentia que podia quebrar e que não ia conseguir afastar-me dessas pessoas. Passei a língua pelos lábios, que já estavam secos assim como toda a minha garganta e passei por uma mesa que estava com garrafas de água, bebendo uns goles da mesma. Desviei o olhar para Mila, que tinha pedido para me concentrar nela e assenti, com um sorriso, aproximando-me para a beijar de novo. Agora podia fazê-lo sempre que quisesse. - vem - agarrei na sua mão andando um pouco à sua frente e comecei a cumprimentar patrocinadores, fotógrafos, colegas de trabalho e outros tantos, apresentando a minha namorada logo de seguida.

Percebem agora porque é que eu tinha tanto medo que Fly fosse trabalhar sem mim? Bastava olhar para a festa onde estávamos para perceber que seu dia a dia estava rodeado de tentações e, por muito que eu confiasse nele, porque confiava, eu sabia que ele não era de ferro. E se havia uma coisa que eu não estava disposta a voltar a ver era o estado em que ele outrora estivera por causa das drogas. Por isso, e no que dependesse de mim, não ia sequer dar-lhe a hipótese de vacilar. Acariciei a sua bochecha com as pontinhas dos meus dedos assim que senti o seu beijinho e apressei-me a corresponder ao mesmo antes de entrelaçar os meus dedos nos seus.- amo-te.- murmurei baixinho contra os seus lábios, enquanto o fazia, e depois de me afastar dele, ou pelo menos os nossos lábios tive de afastar, comecei a andar ao seu lado, enquanto nos dirigíamos até algumas das pessoas que Fly queria cumprimentar. Escusado será dizer que morria de vergonha sempre que ele me apresentava como sua namorada, mas também tinha de admitir que sabia bastante bem ouvi-lo apresentar-me como tal. Agora já não havia como esconder.

Coloquei a minha garrafa de água em cima de um dos tabuleiros que os empregados traziam e puxei Milla até à parte das traseiras da festa, de onde havia umas escadas que davam até à praia. - Queres ir dar uma volta e sair desta confusão? - perguntei - enquanto não temos que ir ao jantar - revirei os olhos só de me lembrar e respirei fundo, era preciso ter uma grande força de vontade para conseguir ir a esse jantar. Para além da droga que circulava secretamente, também havia só gente chata que discutiam o meu futuro ou então os seus novos projetos que eram magníficos. - Anda ver o pôr do sol - puxei-a, sem deixar que ela me respondesse nem que sim nem que não.

Quando, finalmente, cumprimentei a última pessoa que Fly queria que me conhecesse, ou pelo menos das pessoas que ali estavam, entrelacei os meus dedos nos do meu namorado, virando costas para nos começarmos a afastar dali. Por muito bom que fosse poder finalmente andar com ele sem medos, era também bastante maçador ter de falar com tanta gente, se bem que ainda nos faltava o jantar, por isso, acho que ia ter de me habituar. Despertei dos meus pensamentos assim que senti Fly começar a puxar-me com um bocadinho mais depressa e só ao fim de alguns segundos é que me apercebi que já não estávamos mais no centro da festa, mas sim nas traseiras da mesma, junto de umas escadas que, pelo que conseguia ver, iam dar à praia. Olhei para o mar, ao mesmo tempo que ouvia a pergunta de Fly, mas não consegui fazer mais do que assentir, uma vez que ele começou logo a puxar-me, para que descêssemos.
- Não me parece que tenha muita escolha, não é amor? - brinquei, soltando uma leve gargalhada, mas deixei que me levasse para onde quisesse. Era sempre bom ter um bocadinho só para nós.

Desci as escadas depois de me descalçar e agarrei de novo na sua cintura beijando-lhe a bochecha - até parece que não gostas de estar só comigo - brinquei encostando o seu corpo ao meu. Pouco me estava preocupando com os fotógrafos que estavam de olhos postos em mim, ou melhor, em nós. - Mila - chamei a sua atenção mais sério e observei-a atento a qualquer pormenor que me pudesse escapar - tu tens a certeza de que estás bem com isto, não tens? - perguntei - eu estou habituado a isto... tu não. - tinha medo que isto afetasse o nosso relacionamento, as pessoas iam querer escavar o seu passado e ela podia reagir pior do que eu estava à espera. - Não te posso perder.

Uma vez que estava de saltos altos e que não ia ser nada confortável andar pela areia com eles nos pés, parei antes de descer o último degrau para me descalçar, e depois sim, deixei que os meus pés pousassem na areia.
- E quem te disse que gosto? - olhei para Fly depois de o ter feito, mostrando-lhe um sorriso todo provocador enquanto deixava que me puxasse contra o seu corpo. Para dizer a verdade, já não me lembrava da última vez em que tinha estado na praia, ia saber-me bastante bem aquele bocadinho ali, com Fly. Deixei que me puxasse contra o seu corpo, encostando a minha cabeça ao seu ombro assim que o fez, mas logo tive de me endireitar, desviando toda a minha atenção para ele mal chamou o meu nome. Parei de andar, deixando-me apenas ficar a olhá-lo e estava a preparar-me para lhe perguntar o que se passava quando começou a falar. Mordisquei a parte de dentro do meu lábio, deixando-me ficar calada enquanto falava, e só quando terminou é que entrelacei os meus dedos nos seus, sem nunca desviar o olhar. Eu sabia que ia ser complicado, e sabia que as pessoas iam falar, mas se eu queria estar com Fly, ia ter de arranjar forma de me habituar.
- Eu sei que as pessoas vão falar sobre mim.- acabei por dizer.- e sei que o mais provável é que elas descubram o que eu não quero que seja descoberto.- encolhi ligeiramente os ombros, baixando o olhar para os meus pés durante breves segundos.- mas eu amo-te e quero estar contigo.- assenti, voltando a olhá-lo.- e quero que saibam que sou tua namorada, independentemente do resto.- murmurei.- por isso, eu vou habituar-me.- assegurei, aproximando-me o suficiente até lhe conseguir rodear o pescoço com ambos os braços.- só preciso que tenhas calma comigo.- pedi, encostando a minha testa à sua, ao mesmo tempo que o ouvia dizer que não me queria perder.- tu não ouviste o que eu disse? - sorri levemente.- eu amo-te Fly, tu não me vais perder.- dei-lhe um beijinho suave nos lábios.- nunca.

Olhei para o seu lábio inferior, apertando-lhe a mão que estava agarrada à dela com força. Queria tanto ter certeza de que ela ia ficar bem com isto tudo, mas eu sabia muito bem no meio em que a estava a meter. A minha dependência tinha sido escondida de todos porque nunca foi descoberta por ninguém que não tivesse sido a minha mãe. É verdade que os meus fornecedores, quando estivessem na miséria poderiam ganhar muito com isso, mas aí era diferente... muito diferente. Camilla não estava habituada a isto e o seu segredo podia afetar também as suas irmãs, era por isso que ela devia negar quando alguém lhe perguntasse se tinha família. - Vou ter toda a calma possível contigo - murmurei com um meio sorriso e fechei os olhos, tocando-lhe na bochecha - eu também te amo - confidenciei contra os seus lábios e, antes que o ambiente se tornasse uma atração para os fotógrafos, puxei-a até beira mar.

Para ser sincera, por muito que eu dissesse que ia ficar bem, que ia conseguir lidar com o que pudessem dizer sobre mim, eu sabia perfeitamente que, a partir do momento em que falassem do meu trabalho, eu ia desmoronar-me e ia voltar a ficar no estado em Fly me vira ainda há uns dias atrás. Ainda assim, e tal como tinha acabado de lhe dizer, eu ia fazer um esforço por me habituar, ia fazer um esforço por aceitar este seu mundo e tentar fazer parte dele. Eu amava-o, muito, e queria estar com ele mais do que tudo, por isso, eu ia ter de conseguir, desse por onde desse. Sorri contra os seus lábios ao ouvir as coisas que me dizia, que me despertaram dos meus próprios pensamentos, e dei-lhe apenas um outro beijinho, antes de me afastar para conseguir andar ao seu lado até à beira mar.
- Achas que as pessoas ficaram com uma boa impressão minha? - acabei por perguntar, à medida que mordiscava o meu lábio de forma inconsciente.- não que eu me importe muito com o que possam pensar.- apressei-me a dizer, encostando a minha cabeça ao seu ombro enquanto olhava para o mar.- mas espero que tenham ficado, até porque eu sou a rapariga mais bonita que já apareceu ao teu lado.- não resisti em brincar, esboçando um sorriso maroto que não tinha a certeza se Fly ia ver.