Bar de Alterne

Senti as minhas bochechas ferverem mal o ouvi falar e sorri como uma parvinha, encostando a minha cabeça à sua.
- Só tua.- disse baixinho e assim que ele me apertou a mão, eu pressenti que algo se passava. Foi então que me lembrei do seu pedido, para o ajudar com o seu quarto. Levantei a cabeça, depois de o ouvir dizer que também me amava e virei-a na sua direcção, roçando os meus lábios na sua testa, beijando depois a mesma.- vai correr tudo bem.- disse baixinho.- eu estou contigo.

Levantei o olhar na sua direcção passando os dedos pelas suas bochechas coradas e assenti com a cabeça - sim, eu sei - disse baixinho vendo a minha casa ao longe. Sorri levemente pagando ao taxista e saindo do carro. - vamos - murmurei sem deixar a sua mão, puxando-a para que entrassemos pela porta principal.

À medida que nos aproximávamos da sua casa, eu sentia-me ficar mais e mais nervosa. Não só por ir conhecer a sua mãe, mas também por causa dele, eu sabia que era tudo menos fácil. Mordisquei a parte de dentro da minha bochecha assim que senti o carro parar e saí depois de Fly, apertando a sua mão enquanto olhava para a sua casa. Eu já lá tinha estado antes, uma vez, mas agora era diferente, agora eu estava ali como sua namorada. Assenti, começando a andar ao seu lado até à porta e não deixei de lhe apertar a mão. Podia dizer que estava mesmo com medo.

Respirei fundo quando vi Leo e contive-me para não lhe partir a boca toda apesar dele nem sequer ter olhado. Afastei-me dele o mais rápido que consegui nem conseguindo reagir ao que ele dissera. Apenas olhei Camilla beijando-lhe a testa e abanei a cabeça percebendo que estava perturbada - eu vou ver, vai ficar tudo bem, eu não me meto em confusões outra vez, prometo. E quanto ao dinheiro - continuei a conversa de antes - eu vou continuar a dar o mesmo. Assim fica para ele e para ti.

Tive de me voltar a aproximar de Fly para sentir o seu beijinho, que me fez suspirar, e apenas encolhi os ombros com o que disse sobre de me ir ver dançar e não se meter em confusões, não era com isso que eu estava preocupada, era com o facto de ele me ter de ver naqueles preparos, a dançar para outros homens. Voltei a afastar-me, indo pegar no fato que me estava reservado para vestir e revirei ligeiramente os olhos quando continuou a falar do dinheiro.
- E se ele mo tirar? - perguntei sem o olhar.- eu não vou deixar que me dês mais dinheiro nem nada que se pareça.- disse.- percebo que pagues para eu não ficar com mais ninguém, e ainda bem que o fazes, mas não quero que gastes todo o teu dinheiro aqui.- abanei a cabeça, começando a despir-me.

fato:

-Se ele to tirar é porque não guardaste a parte que te dou a ti. Eu dou-te dinheiro a mais para dares a parte dele a ele - encolhi os ombros sentando-me no sofá que ela tinha naquela coisa que não se parecia com nada e cruzei os braços, não estava nada com vontade de a ver a dançar para outras pessoas - Camilla, eu trabalho desde bebé de certeza que não consigo gastar todo o meu dinheiro aqui. - encolhi os ombros.

Fiz uma careta quando comecei a enfiar aquela coisa que nem de fato se podia chamar e olhei para Fly através do espelho, soltando um suspiro.
- Eu guardo, achas que gosto de lhe dar dinheiro? - murmurei, apertando o fato com alguma dificuldade. Engoli em seco ao olhar-me ao espelho, evitando não olhar para a cara de Fly e comecei a tratar da maquilhagem, aquilo não tapava quase nada, era no mínimo vergonhoso.- está bem.- disse apenas, só de pensar no que ia fazer a seguir, perdia toda a disposição.

Ia levantar-me para a ajudar a fechar o fato mas nem isso fiz, não me conseguia mexer sequer. Passei os dedos pelo meu cabelo ficando a olhar para o espelho enquanto ela se maquilhava. Eu gostava do corpo dela, podia ficar a olhar para ele sempre, mas festava o facto de ela ter que o partilhar, mesmo que ela não tivesse culpa e de ser o seu trabalho - queres ajuda? - perguntei.

Eu odiava-me. Odiava-me por fazer o que fazia, odiava-me por ter escolhido a via mais fácil, mesmo que estivesse desesperada, mas acima de tudo, odiava-me por ter permitido que ele se aproximasse. Não me odiava por o amar, era o melhor de mim, mas odiava-me por ser tão egoísta ao ponto de o trazer para o meu mundo, de o obrigar a ver coisas que nenhum namorado merecia ver. Nenhum rapaz merecia uma namorada como eu, Fly merecia melhor. Mordi a parte de dentro da minha bochecha com força, para me impedir de chorar ou ainda borrava tudo o que já tinha feito e quando ouvi Fly falar senti o meu coração disparar, como sempre acontecia. Era por isto que não me conseguia separar dele, mais ninguém ia conseguir o que ele conseguia.
- Não, obrigada.- murmurei muito baixinho, debruçando-me para me calçar. Levantei-me quando estava pronta e coloquei por fim o adereço no cabelo, soltando um suspiro.- ainda estás a tempo de ficar aqui.- disse no mesmo tom baixo, olhando para os meus sapatos, balançando o peso de um pé para o outro.

Levantei-me quando vi que estava pronta e fui ter com ela levantando-lhe o olhar quando levei a mão à sua bochecha e aproximando-me para beijar os seus lábios - amo-te - murmurei baixinho - e dá-lhes um pontapé bem acente com esses saltos que tens sempre que te tocarem - sorri levemente apesar de não ser a coisa que mais me apetecia. Dei-lhe mais um beijinho rápido e abri a porta - anda, estou atrás de ti, não vou ficar aqui - disse-lhe logo fechando a porta e indo para um dos lugares que ainda estavam vagos na primeira fila, depois de ter afastado alguns homens, ainda ouvi uns comentários de alguns velhos, mas nem liguei ficando de braços cruzados a olhar para o varão que estava mesmo à minha frente.

Fui obrigada a levantar o olhar para Fly quando senti a sua mão na minha bochecha e se eu já tinha vontade de chorar, fiquei com mais ainda. Eu não queria fazer isto, não queria que Fly tivesse de ver isto. Assenti com a cabeça a tudo o que ele disse e sem dizer nada, saí à sua frente, separando-me dele quando se foi sentar. Subi as escadinhas que davam acesso à parte de trás da cortina e fiquei encostada à mesma à espera que chamassem o meu nome para depois entrar. Respirei fundo várias vezes, abanando as mãos em frente dos olhos para secar as lágrimas e quando finalmente ouvi o que menos queria, abri a cortina, entrando em palco. Senti o meu queixo tremer ao ver Fly mesmo ali à minha frente e tive de olhar para outro lado para não perder por completo a compostura. Aproximei-me do varão, deslizando os dedos pelo mesmo e quando a música começou, eu comecei a mover-me.

Eu podia gostar, podia acha-la sexy e tudo mais, mas saber que estava um monte de gente a vê-la como uma pessoa que vai a um concerto, dava-me logo pouca vontade. Tentei fiquei a olha-la, mas acabei por desviar o olhar ficando a olhar para um ponto fixo. Olhei para trás para olhar para Leo e cerrei o maxilar, ele adorava isto. Respirei fundo para me controlar e ajeitei a minha roupa desviando de novo o olhar para ela.

Eu não conseguia, eu já não gostava de o fazer nos outros dias, mas hoje não conseguia. Engoli em seco, dando uma volta pequenina no varão e quando olhei para o público, encarando Fly, senti o meu coração apertar-se ao vê-lo de cara virada. Ele ia ter nojo de mim não ia? Eu tinha, eu sabia que ele também ia ter. Abanei a cabeça, sentindo a respiração ficar presa na minha garganta e as lágrimas inundarem-me os olhos. Reprimi um soluço, vendo os olhares mudarem de satisfação para espanto e sem aguentar mais aquilo, virei costas, começando a correr dali para fora. Passei as costas das mãos pelas bochechas, tentando limpar as lágrimas para conseguir ver as escadas, mas já só me senti tombar no chão. Ia queixar-me com a dor que sentia no meu pé, mas sentia-me tão sufocada que nem isso fiz.

Quando voltei a pousar o olhar no dela vi-o brilhante e nada normal. Juntei as sobrancelhas olhando depois em volta e percebi o que ia acontecer. Corri logo atrás dela, dando uns encontrões a um dos homens que estava atrás do palco e vi-a no chão a chorar. - Milla - murmurei agarrando-a ao colo mal a encontrei encostando-a mim - Então? - perguntei baixinho encostando a minha cabeça à dela.

Tinha o meu coração a bater tão descompassado que até dificuldade tinha em respirar. Senti o meu corpo estremecer quando ouvi a voz de Fly e abanei a cabeça, mas já não fui a tempo de o impedir de pegar em mim ao colo. Só de o sentir tão perto de mim, o choro tornava-se ainda mais incontrolável.
- Não gostes de mim.- solucei, apesar de me estar a agarrar à sua camisola.- eu não mereço que gostes de mim.

Olhei em volta vendo que estavam uns matulões a olharem para nós e abracei-a com mais força como a mostrar que a estava a proteger e que não saia dali sem ela, nem que começassem à porrada - não digas isso - murmurei encostando a minha testa à sua cabeça - não digas isso Camilla - murmurei passando a mão pela sua bochecha molhada. - Não tens culpa, é o teu trabalho - passei as mãos pelas suas costas encostando-a totalmente ao meu corpo.

Continuei a abanar a cabeça, mesmo depois de ouvir as coisas que ele dizia. Como é que ele podia pensar assim.
- Eu tenho.- funguei.- a culpa é toda minha.- senti o meu queixo tremer ainda mais.- tu mereces melhor do que eu, tu não tens de assistir a isto, eu não mereço nada.- eu estava a dizer estas coisas, mas só de o imaginar a deixar-me...preferia morrer.
- O que é que se passa com ela? - encolhi-me ao ouvir a voz de Leo.- o que tens Cam?
- Sai daqui! - gritei-lhe por entre o choro.- vai-te embora Leo.

Suspirei mordendo-me todo enquanto ela falava. Eu estava a tentar aguentar isto, só queria que ela tentasse fazer o mesmo. Não que ela não tentasse. - Camilla - tentei chama-la à realidade quando ouvi a voz de Leo. Cerrei o maxilar afastando-a dele e olheio - sai daqui - disse entredentes - temos que sair daqui princesa - murmurei - ou vão expulsar-me.

Levantei a cabeça devagarinho, para me certificar de que Leo se tinha ido embora, mas quando o vi ali, voltei a esconder a cara no pescoço de Fly. Funguei, passando as mãos pelas bochechas e assenti ao que ele me disse, encolhendo-me sobre o meu próprio corpo.
- Quero ir para casa.- disse num tom baixo, abraçando-me a mim própria.
- Tu não podes sair daqui agora.- Leo continuou a falar, o que me fez voltar ao choro, só por causa dos nervos que ele me causava.
- Leva-me daqui.- pedi a Flynn.

Cerrei o maxilar virando-me para Leo, deixando Camilla atrás de mim e fechei as mãos em punhos vendo os seguranças pronto a atacar-me - Claro que pode - disse com um sorriso cínico agarrando na minha carteira e atirei-lhe todas as notas que já tinha preparadas para dar a Camilla. Estava também ali a parte dela, por isso ele levava mais do dobro do que devia dar. - É ao domicilio - forcei de novo um sorriso e virei-me para Camilla colocando-lhe uma mão à volta do seu corpo levando-a para porta dos fundos, por onde tínhamos fugido da outra vez. - Eles não vêm atrás de nós, pois não? - perguntei olhando sempre em frente e num passo rápido.

Tive de me agarrar não sei bem a quê para não cair quando Fly me colocou no chão e fiquei a olhar para ambos, para ele e para Leo, rezando interiormente para que o último se mantivesse calado, a última coisa que precisava agora era que eles começassem a lutar. Engoli em seco ao ver as notas caírem das mãos de Fly e só senti os meus olhos encherem-se de lágrimas. Era por aquilo que eu não o merecia, era por aquilo que ele não devia gostar de mim. Tapei a boca com uma mão, para calar um soluço e saí dali ao lado de Fly, sem nunca me colar muito ao seu corpo. Olhei para trás quando ouvi a sua pergunta e abanei a cabeça, só me lembrando depois que ele não me via por estar a olhar em frente. Funguei, voltando a limpar as bochechas e tossiquei.
- Não.- murmurei baixinho.

Assenti com a cabeça respirando fundo quando saímos para a rua e dei uma corrida com ela até ao meu carro, abrindo-o e ajudando-a entrar. Depois disso, sentei-me no meu lugar e agarrei-lhe na mão apertando-a ao de leve - Está tudo bem Milla - murmurei - nós vamos conseguir tirar-te daqui. Eu prometo que vamos - sorri apenas um bocadinho dando-lhe um beijo na mão que agarrava.

Tentei acompanhar o seu passo quando ele me levou para o seu carro e entrei, colocando logo o cinto. Estava a preparar-me para encostar a cabeça no banco e olhar pela janela quando o senti agarrar-me na mão. Escusado será dizer que o nó na garganta voltou, o que me fez engolir em seco. Fui olhando para ele aos poucos e quando disse que me ia tirar de lá o meu queixo voltou a tremer, era o que eu mais queria.
- O que é que tu viste em mim? - perguntei sem voz, por causa do choro.- não podes ter visto nada de bom.- abanei a cabeça, sentindo as lágrimas deslizarem pela minha bochecha de novo.- não podes ter visto nada de bom.- comecei a soluçar.- tu não podes ser feliz comigo, é impossível.- tapei a cara com as mãos.- eu não presto, eu não sou boa para ti.- disse, com a voz abafada.

Juntei as sobrancelhas quando ela voltou a chorar e tirei o cinto que até então tinha colocando aproximando-me dela para a virar para mim e a encostar ao meu peito enquanto ela chorava. Eu não aguentava mais isto, eu precisava de a tirar de lá antes que rebentasse. Encostei a minha cabeça à dela passando as mãos pelas suas costas - eu vi tudo de bom em ti - murmurei baixinho - já viste a pessoa que és? Podes não gostar do que fazes mas fazes porque queres que as tuas irmãs estejam bem. Eu não vejo mal nenhum nisso. - murmurei-lhe passando os dedos pelo seu cabelo - acalma-te, vou levar-te para minha casa está bem?

Soltei um soluço mais audível quando senti a minha cara embater em algo que só depois percebi ser o seu peito e fiquei assim, encostada a ele enquanto ele falava. Não, eu não era boa pessoa, as minhas irmãs não eram desculpa, eu nunca devia ter ido para ali, porque é que ele bão via, porque é que ele não percebia? Ainda pensei em abrir a boca para lhe explicar como estava errado, mas percebi que não iria valer de nada. Fui-me desencostando aos poucos, até ficar de novo encostada ao banco e ao ouvir a sua pergunta, apenas assenti. Eu só queria uma cama para me deitar e nunca mais de lá sair.