Sala de estar

Por mais que eu quisesse eu não conseguia confiar em ninguém, nem numa alminha como a dela. Segui todos os movimentos que ela fazia e olhei também para trás acabando por entrar em sua casa, que parecia mais quente do que lá fora. Ajeitei o cabelo que estava todo nojento e molhado e cerrei os punhos logo de seguida para não tremer.
-Não faz mal.

Olhei para ele e deixei cair a manta do sofá - Faz sim, vais ficar doente. - apontei para as escadas - Podes tomar um banho rápido se quiseres. Enquanto tomas banho de água quente eu seco-te as roupas.

Olhei na direcção que ela apontava e abanei a cabeça quando me lembrei que não me ia despir à frente dela.
-Eu sei que estás louquinha para me ver nu - gozei - mas não vais ter esse prazer - disse com um ar convencido.

Revirei os olhos com aquilo que ele disse - Eu não vou ver nada. Entras na casa de banho, despes a roupa, abres um bocado a porta, dás-me a roupa, tomas banho enquanto eu seco a roupa, abres um bocado a porta, eu dou-te a roupa de novo e pronto, não vi nada.

Fiquei a olhei para ela quando fez a descrição completa do que eu devia fazer e acabei por assentir porque estava a morrer de frio e nem sentar-me podia por estar todo molhado.
-Mostra-me onde é a gloriosa casa de banho. - gozei com um revirar de olhos.

Fui sentar-me ao lado dela direito e um bocado encolhido por causa do frio e fiz uma careta quando disse que era mau.
-Eu estava a preocupar-me e tu dizes que eu sou mau? - perguntei enquanto a olhava - deves ser muito melhor deves. - cruzei os braços.

Olhei para a lareira que estava acessa e depois para ele - E sou. Estou preocupada contigo e tu tratas-me mal. Já viste a maneira como me tratas? Não tens de me dar flores mas também não tens de ser assim.

-Eu também estava preocupado - encolhi os ombros e acabei por suspirar passando as mãos pela cabeça e depois pela cara respirando fundo. - Desculpa lá se não sou como tu querias - abanei a cabeça e acabei por me levantar - obrigado pelo banho.

Agarrei-me mais à almofada e assenti com a cabeça. Suspirei e encolhi-me toda no sofá a olhar para a lareira - De nada.

Revirei os olhos indo na direcção da porta de casa dela e saí, fechando-a devagar antes que a partisse. Olhei para o céu e dei uma corrida para o meu carro entrando nele e ficando lá parado durante um bocado.

- Ai. - disse baixinho em tom de resmungo. Estiquei-me toda no sofá e fiquei a olhar para o tecto. Tinha de ligar ao Brian e falar com a Mariah e isso tudo mas não me apetecia. Aquele tirava-me a vontade de fazer fosse o que fosse.

Coloquei a chave na ignição e liguei o carro olhando para a rua onde estava.
-Vamos embora - disse baixinho para mim e arranquei indo embora para onde quer que fosse. Não tinha nada em mente. Talvez alguém me ligasse para combinar alguma coisa.

Acabei por agarrar no telemóvel e mandar uma mensagem à Mariah para dizer que não ia sair com elas no dia seguinte.
Marquei o número do Brian e sorri ligeiramente enquanto esperava. Não lhe ia contar do casamento, é claro que não. Voicemail. Ele já devia estar a dormir.
- Olá, amor. - sorri para o telemóvel - Desculpa só ligar agora mas foi um dia muito longo. Espero que o torneio esteja a correr bem e quero saber em que lugar estás. Tenho saudades tuas. Beijinhos.

Estava à procura da minha carteira para pagar uma garrafa de água quando percebi que não a tinha. Ainda fui procurar pelo carro todo, mas não a encontrava. Felizmente a senhora deixou-me leva-la sem pagar. Devia ter-me esquecido dela em casa de Lillianne. Suspirei por ter que voltar lá e voltei a entrar no carro arrancando para lá, quanto mais rápido melhor.

Aninhei-me toda no sofá e fiquei lá em silêncio quando ouvi os meus tios a voltar para casa. Eles foram todos deitar-se e nem ligaram ao facto de eu estar ali. Ainda bem, o único que me interessava era o Ben. Mordi o lábio inferior enquanto olhava para o fogo e tapei as pernas despidas com uma manta. Tinha de ir falar com o meu pai, podia ser que ele impedisse este casamento e esta parvoice de uma vez.

Parei de novo o carro à porta de sua casa e saí com mais calma, por já não estar a chover. Não me apetecia nada voltar a falar com ela depois do que lhe tinha dito, e do que ela me tinha dito a mim, mas a minha carteira tinha coisas importantes. Mais importantes que dinheiro. Bati à porta apenas, para não os acordar a todos com a campainha.

Levantei a cabeça quando ouvi baterem à porta e arqueei uma sobrancelha. Estranho.
Levantei-me agarrada à manta que me tinha estado a tapar e fui abrir a porta - Esqueceste-te de alguma coisa? - perguntei por ser a coisa mais óbvia para ele ter voltado.

Estava a passar a mão pela cana do nariz quando ouvi a porta abrir-se. Abri também os olhos e olhei-a assentindo com a cabeça enquanto a olhava.
-Viste a minha carteira? - perguntei-lhe num tom mais baixo que o normal.

Abri mais a porta para que ele conseguisse entrar e enrolei melhor a manta à minha volta, estava com frio.
Abanei a cabeça e espirrei de seguida, fazendo uma careta - Não. Mas podes entrar e procurar.

Suspirei por ainda ter que fazer aquilo e passei as mãos pela costa olhando-a quando espirrou.
-Eu avisei para tomares alguma coisa - resmunguei enquanto abanava a cabeça e fui até à sala olhando para o sofá e passando as mãos por baixo das almofadas.

- Não é preciso. - disse encolhendo os ombros. Fechei a porta e fui atrás dele até à sala para ver se o ajudava a encontrar a carteira - Não ficou na casa de banho ou assim? - perguntei a olhar para ele.

Passei as mãos pelo cabelo, por ela me conseguir irritar tanto com aquela teimosia e abanei a cabeça.
-Não sei - disse acabando por encolher os ombros e levantei o olhar para a olhar, estava com um mau aspecto, não que deixasse de ser.. não, pronto está bem. Cala-te Não conseguia deixar de me sentir culpado por ela estar a ficar doente. - vai tomar um comprido, já - agarrei num braço dela levando-a à cozinha

Arqueei uma sobrancelha quando ele me agarrou no braço e me começou a puxar para a cozinha. Fiz uma careta quando espirrei de novo e abanei a cabeça.
- Não sejas bruto, daqui a nada preciso é de gelo porque fico com negras no braço. - olhei para ele.

Larguei-a com um suspiro e olhei para o balcão vendo ainda os comprimidos e o meu copo em cima da mesa, dei-lhe um para a mão e o copo que ainda tinha água.
-Bebe, a sério. - pedi enquanto a olhava.