Sala de estar

Agarrei-me a ela com um olho meio fechado e assim que ela me ajudou a sentar no sofá eu olhei para ela - o que é que vais fazer? - perguntei e tive que me deitar, estava a sentir-me zonzo como antes, por isso não era por causa da testa. - não vais embora, pois não? - perguntei olhando-a.

Peguei em duas almofadas, levantando-lhe a cabeça para as meter debaixo da mesma e sentei-me na pontinha do sofá, passando uma mão pelo seu peito.
- Eu só preciso de ir à farmácia.- olhei-o.- eu volto num instante, é já aqui ao lado.- subi a mão até à sua bochecha, acariciando-a.- eu não tenho nada em casa.- suspirei.

Fechei os olhos quando subiu a mão até à sua bochecha e engoli em seco, não conseguia fazer isto com ela longe, mesmo que fosse lá em baixo ou lá em cima. Assenti com a cabeça apesar de não querer e beijei-lhe a mão, agarrando-me à almofada, fazendo uma careta por causa das dores - está bem - murmurei ficando a olhar para ela.

Eu ia ser rápida, muito rápida mesmo. Não queria deixá-lo sozinho. Sorri com o seu beijinho, tocando com os dedos na sua cara e levantei-me, debruçando-me depois para lhe beijar a testa.
- Eu vou num pé e venho noutro, eu prometo.- olhei os seus olhos.- vai ser tão rápido que nem vais ter tempo de sentir falta.- sorri levemente, eu ia morrer de saudades dele, nem que fosse só um segundo.- fica aqui, está bem? Não te mexas, eu já volto.

Fiquei a olha-la enquanto assentia, eu tentava, eu juro que tentava mas não conseguia ouvir nada do que ela dizia, estava mais concentrada noutra coisa e nem sabia o que era. Agarrei-me mais a almofada vendo-a ligeiramente suja com sangue, mas já nem sabia da dor. Quando voltei a olhar para cima para pedir a Milla que ficasse, ela já não estava lá.

Mal saí de casa, meti a mala ao ombro e dirigi-me a passo apressado até à farmácia. Não me queria demorar, tinha-lhe prometido que era rápido. Mal lá cheguei, corri para a fila e num instante chegou a minha vez. Comprei comprimidos para a dor de cabeça, betadine para desinfectar a ferida e um creme para colocar depois.
- Pode ficar com o troco.- disse toda apressada e agarrei no saco, saindo da farmácia a correr. A senhora devia achar-me louca, mas eu nem queria saber, só queria chegar ao pé da minha vedeta. Aperrtei bem o saco na minha mão, dando uma corridinha até casa e enfiando-me no prédio de repente e subi no elevador até casa.

Estremeci quando a porta se fechou e fechei os olhos com a corrente de ar que passou pelo meu corpo, o nó que tinha no estômago apertou-se ao mesmo tempo que se alastrava por todo o meu corpo e causava suores frios. Eram todos os produtos tóxicos que tinha ingerido a sair do meu sistema. Doía-me até aos ossos. Apertei a almofada e acabei por manda-la até ao chão, retorcendo-me de tal maneira naquele sofá pequeno que caí no chão, em cima do tapate. Abri os olhos olhando para a sala e esforcei-me para ir até ao seu quarto, arrastando-me até à sua cama, quando lá cheguei, sentei-me, agarrando-me aos cotovelos. Não conseguia aguentar mais, não conseguia.

Enfiei as mãos dentro da mala, vasculhando pelas minhas chaves e bufei para o ar quando não as encontrei. Era sempre, sempre a mesma coisa.
- Estão aqui! - soltei um guinchinho e enfiei-as na porta, abrindo-a e entrando. Fechei-a atrás de mim e pousei as chaves em cima da cómoda, indo depois até à sala.- já voltei.- olhei para o sofá, mas assim que não o vi lá, o meu coração disparou.- Fly? - chamei mais alto e deixei todas as minhas coisas caírem no chão, indo procurá-lo por toda a casa.- Fly?

Remexi-me na cama quando ouvi a porta a bater, ouvindo o meu nome a sair da sua voz e fechei os olhos, não tinha força para gritar, ela haveria de me encontrar no seu quarto. Agarrei-me à sua almofada e suspirei enquanto me tentava despir, os tremores também me começavam a consumir, mas os suores frios eram a pior coisa.

Não estava na casa de banho, não estava na sala, não estava na cozinha. Eu estava prestes a desesperar. Aliás, acho que foi esse mesmo desespero que me fez esquecer do sítio mais óbvio de sempre, o meu quarto. Corri até lá, com o coração aos pulos e quando lá cheguei, o meu queixo tremeu ao ver o seu estado.
- Fly..- murmurei baixinho e corri até ele, sentando-me na pontinha da cama e passando uma mão pela sua testa molhada.- tem calma.- murmurei no mesmo tom.- eu estou aqui.

Virei-me de barriga para cima assim que me consegui despir e fechei os olhos ao sentir uma coisa na testa, só ouvindo Milla ao meu lado - Milla - murmurei - finalmente - encostei a cabeça ao seu corpo. Abri os olhos para a conseguir ver e sorri ligeiramente esticando a cabeça até à cara dela. - Não vás mais embora - murmurei-lhe.

Passei uma mão pelos seus cabelos molhados por causa do suor e baixei-me até lhe conseguir beijar a testa. Ele estava tão quente.
- Eu não vou.- abanei a cabeça, olhando os seus olhos e suspirei com o seu estado, tentando-lhe limpar o máximo de suor que conseguia.- eu fico contigo, não te preocupes.- tentei sorrir e pousei a sua cabeça na almofada, levantando-me apenas para ir buscar uma taça com água e uma toalha à casa de banho.

Abri os olhos, forçando-os a estarem abertos quando a senti afastar-se novamente e quando voltou com uma taça de água abanei a cabeça, tentando afastar-me, mas mal me conseguia mexer - isso vai doer - murmurei - eu tenho frio. - queixei-me baixinho fechando os olhos de novo. O meu corpo estava gelado, eu estava gelado mas, os suores frios continuavam.

Olhei-o quando se começou a queixar e abanei a cabeça, dando-lhe uma festinha na bochecha com as pontinhas dos dedos.
- Não vai doer, eu prometo que não vai doer.- murmurei baixinho, virando o seu olhar para mim.- confias em mim? - perguntei, baixando os meus lábios até ao seu nariz.

Abri os olhos devagarinho quando senti os seus lábios no meu nariz depois de ter dito todas aquelas coisas que eu não conseguia acompanhar, apenas assenti, esticando-me ligeiramente para ela e encostando a testa à sua, puxando-a mais para mim - não me deixes - murmurei - eu não consigo sem ti.

- Fly, eu não te vou deixar, eu prometi.- disse baixinho, com o coração apertadinho e deixei que me puxasse para ele, sentindo os nossos narizes embaterem um no outro. Mordi o lábio, fechando os olhos por uns segundos ao sentir a sua respiração embater na minha cara e entreabri os lábios, inspirando. Eu tinha prometido que não o beijava, nem a ele nem a outro qualquer. Costumava dizer que não me queria apaixonar. Pois bem, eu já estava apaixonada e nem tinha beijado ninguém. Não o tinha beijado a ele. Desci os meus olhos até aos seus lábios, mordendo o meu inferior e por mais que eu não quisesse, ele estava demasiado próximo. E eu queria. Acariciei a sua bochecha com as pontinhas dos meus dedos e cheguei-me mais para ele, encaixando os meus lábios nos seus, finalmente.

Estava todo a tremer, dos pés à cabeça, mas disso eu sabia que não era apenas do frio que estava, mas também da vontade que eu tinha de a beijar. Até quase a morrer eu tinha vontade. Eu amava-a, estava confessado. Eu amava-a mesmo muito. Agarrei-lhe na camisola quando se aproximou de mim e fechei os olhos aos seus os seus lábios nos meus. Suspirei de alívio quando agarrei na sua bochecha e puxei-a mais para mim, tentando-a beija-la melhor.

Eu não conseguia mais, por mais que eu tentasse, por mais que eu tentasse sequer negar os resistir, eu gostava demasiado dele, eu queria demasiado os lábios dele. Eu queria-o demasiado. Cheguei-me o mais para ele que consegui, metendo-me praticamente em cima da cama e agarrei no seu pescoço com uma mão, subindo-a depois para o seu cabelo e mexi nele enquanto o beijava. Era melhor do que o que eu tinha imaginado.

Eu queria mais, mas já estava a não conseguir respirar. Afastei-me ligeiramente começando a perceber o que tinha acontecido e fiquei de olhos fechados durante uns segundos sem conseguir pensar - eu gostava de estar bem para conseguir aproveitar - disse baixinho com um sorrisinho, puxando-a para que se encostasse ao meu corpo. Ainda não estava em mim - os teus lábios são bons.

Se me perguntassem se estava arrependida, a única coisa que diria era que me arrependia de já não ter feito isto mais cedo. Era ele, era ele e só ele. Não havia mais ninguém, nem sequer era possível, eu estava irremediavelmente apaixonada por ele. Eu amava-o. Deslizei as minhas mãos do seu cabelo até à sua bochecha e acariciei a mesma, sorrindo contra os seus lábios quando o beijo cessou. Encostei-me a ele, assim que me puxou para si e deslizei os dedos pelo seu peito, olhando para Fly.
- Vais ter tempo para aproveitar.- dei-lhe um beijinho no maxilar.- mas é bom que fiques bem depressa.- brinquei, esticando uma mão para afastar os cabelos da sua testa.- só os lábios?- fiz uma cara triste.- e eu a pensar que era tudo.- fingi um suspirinho.

-É tudo - disse ao fim de algum tempo encolhendo-me e encostando-me a ela. Sentia que precisava de alguma coisa, tinha fome, tinha fome e sede, mas havia outra coisa. Nem com aquele beijo os meus desejos tinham cessado. Abri os olhos, olhando-a, estava meio desfocada mas continuava linda - prova-me que não tive uma alucinação. - ri-me baixinho.

Mexi as sobrancelhas com um sorrisinho maroto e encostei-me mais a ele, abraçando o seu corpo com cuidado. Ainda não me tinha esquecido de que tinha de tratar da sua ferida, mas eu queria este momento à tanto tempo. Levantei a cabeça para o olhar quando falou para mim e ri-me baixinho antes de me esticar para o conseguir beijar de novo. Levei a mão à sua bochecha, acariciando-a e estremeci quando a minha língua tocou na sua. Eu ia ficar tão viciadinha nisto.
- Ainda achas que é uma alucinação? - falei contra os seus lábios, quando o beijo cessou.

Ela beijava tão bem que ficava na dúvida se era a primeira vez que ela beijava alguém, ou não, ou então era mesmo a alucinação. Abanei a cabeça quando a ouvi e puxei-a pela camisola para a beijar de novo, deixando a minha cabeça cabeça cair na almofada de olhos fechados. - Preciso de ficar bem - disse baixinho.

Isto era tão bom. Os lábios dele eram tão bons e sabia tão bem beijá-lo e..ai, eu não me conseguia controlar. Sorri contra a sua boca quando me puxou de novo para me beijar mais uma vez e acariciei a sua bochecha, assentindo com a cabeça ao que ele disse.
- Pois precisas.- disse enquanto me levantava.- por isso, já chega de beijinhos.- fiz uma cara sofrida.- vou tratar de ti agora.- sentei-me apenas na pontinha da cama e coloquei a taça com água em cima das pernas, molhando o pano e começando a passá-lo pela sua cara, em especial na zona da sua ferida.