Sala de estar

Fechei os olhos quando ela disse que chegava de beijos e que ia tratar de mim e percebi que ia tratar da minha ferida. Suspirei levemente, preparando-me para a dor, mas não consegui não me arrepiar quando senti algo sobre a testa, fazendo-me gemer. - Não precisar de fazer mais já está bom - tentei afastar-lhe a mão - já está bom - passei a mão tremula pelos olhos

Tentei ter o máximo de cuidado possível para não o magoar e quando ele começou a tentar afastar a minha mão, suspirei baixinho.
- Fly, eu preciso de tratar disto.- murmurei, olhando para ele e estiquei-me para lhe dar um beijinho rápido.- deixa-me desinfectar e eu dou-te muitos beijinhos depois.- tentei sorrir.- eu vou dar-tos de qualquer das formas, tu sabes, mas deixa-me tratar disto, é para teu bem.- suspirei.

O meu corpo estava de novo a doer muito, aquilo ainda me fazia sentir pior, mas deixei que ela me tentasse desinfectar aquilo - eu só quero os teus beijinhos quando conseguir senti-los - disse num tom baixo, contorcendo-me e tentando agarrar nas mantas para me tapar, tinha frio, precisava de dormir para melhorar.

Suspirei com o que ele disse e assenti, afastando o pano da sua cara quando a ferida já não tinha tanto sangue. Levantei-me, indo até à sala, onde deixara o saco com as coisas da farmácia, e voltei depois para o quarto, desinfectando-lhe a ferida.
- Desculpa, eu sei que arde.- pedi baixinho enquanto soprava e depois de desinfectada, foi só colocar o creme para que sarasse.- pronto.- murmurei.- agora descansa.

Levantei a cabeça quando a senti levantar-se e só a deitei quando veio de novo ter comigo. Fechei os olhos encolhendo-me ligeiramente e só senti os meus músculos relaxarem assim que deixou de me tocar lá com o que quer que fosse. Agarrei-me a ela mal isso aconteceu e abracei a sua cintura com um suspiro - não consigo dormir - lamentei-me.

Descalcei-me com a ajuda dos meus pés mal me puxou para ele e abracei o seu corpo com os meus braços, deixando que se aninhasse junto a mim. Dei-lhe um beijinho na cabeça, levando as mãos ao seu cabelo e fiquei a fazer-lhe festinhas no mesmo.
- Tenta.- pedi baixinho. Ia fazer-lhe bem.- as festinhas não ajudam? - olhei para baixo, para ele.

Assenti com a cabeça quando me perguntou se as festinhas não ajudavam.
-Ajudam - disse baixinho mas ao contrário do que devia, comecei a sentir o meu coração a bater muito rápido com o meu pensamento. - Tu tens que ir trabalhar? - perguntei ficando todo torto, tentando olha-la.

Sorri quando Fly disse que as festinhas ajudavam e continuei a fazê-las até ele se remexer, irrequieto. Olhei-o, mordendo a parte de dentro da bochecha com a sua pergunta e assenti a medo. Eu não sabia como é que ia ser, ele não estava em condições de ficar sozinho nem de vir comigo.
- Tenho.- murmurei baixinho e colei os meus lábios à sua testa.- mas ainda estou a tempo de arranjar alguma desculpa.- encolhi os ombros.

Abanei a cabeça quando disse que tinha e tentei sentar-me, agarrando-lhe na mão - tu não podes ir, se tu fores eu vou contigo, eu não quero que vás sozinha - abanei a mão e apertei-a - não podes ir meter-te com outro, sou eu. - só o pensamento me deu a volta ao estômago fazendo-me afastar ligeiramente dela, passando as mãos pelo mesmo, para depois correr até à casa de banho, abraçando-me à sanita.

Tal como eu já previa, Fly ia insistir em vir comigo caso eu fosse mesmo trabalhar. Suspirei, passando uma mão pelo cabelo e quando o voltei a olhar já ele estava todo ansioso, mas no mau sentido. Juntei as sobrancelhas ao ver o seu estado e abanei a cabeça, tentando falar para o acalmar, mas ele já só se levantou e correu para a casa de banho.
- Fly! - levantei-me num salto, indo atrás dele e ajoelhei-me ao seu lado, passando as mãos pelas suas costas.- eu não me vou meter com ninguém.- abanei a cabeça, não que pudesse mandar nisso, mas eu não queria.- eu não me vou meter com ninguém, eu não vou trabalhar hoje, está bem? - afaguei-lhe os cabelos.- agora tem calma, eu vou ficar aqui contigo.

Apertei o tampo da sanita nas minhas mãos tossindo e vomitando lá para dentro e, mesmo quando deixei de sentir necessidade de o fazer, deixei a minha cabeça encostar-se à pedra fria da sanita, fechando os olhos durante um bocadinho enquanto limpava a boca. - Ele vai ficar chateado? - perguntei baixinho.

O seu estado estava a deixar-me preocupada, o que é que se passava com ele? Abanei a cabeça com um suspiro, segurando na sua testa enquanto ele vomitava e engoli em seco, passando a outra mão pelas suas costas, afagando-lhas.
- Não sei, mas não interessa, eu sei como lidar com ele.- murmurei.- eu fico, acalma-te agora.- pedi baixinho.

Levantei a cabeça quando disse que sabia como lidar com ele e olhei o seu corpo, abanando a cabeça durante uns segundos - como é que sabes lidar com ele? - perguntei agarrando-me à parede para me conseguir levantar. - Vais fazer alguma coisa com ele? - perguntei tentando parecer normal.

- Não! - disse de rajada, levantando-me para o ajudar a levantar. Rick tentava sempre fazer alguma coisa comigo, mas a única coisa que ele chegava a fazer era agarrar-me, apenas isso. Ele só tinha conseguido estar uma vez comigo, foi a primeira e a última.- eu não vou fazer nada com ele, eu estou contigo agora.- olhei-o.- só faço coisas contigo.- murmurei com um suspiro.- mas eu sei como falar com ele, eu consigo dar-lhe a volta.

Senti o peso que tinha caído sobre mim desabar e deixei-me encostar a ela, agora que tinha vomitado tudo estava a sentir-me melhor, só precisava mesmo de dormir e amanhã era outro dia. - Estás comigo? - perguntei levemente - estás mesmo só comigo? - levantei a cabeça, ou tentei, porque mal conseguia e encostei a cabeça à dela, beijando-lhe os lábios ao de leve.

Abracei o seu corpo para o conseguir segurar e encostei a minha cabeça à sua, suspirando com a sua pergunta. Não percebia como é que ele ainda tinha dúvidas.
- Eu estou mesmo só contigo.- assenti, tocando-lhe na bochecha com as pontinhas dos dedos.- não duvides de mim, eu não quero mais ninguém. - subi o olhar para o seu.

Abanei a cabeça quando me pediu para não duvidar dela e afastei-me levemente - preciso de uma escova de dentes, quero beijar-te com bom hálito - disse arrastando-me até ao copo onde estava uma que era dela - não tens mais? - perguntei fazendo uma careta.

Sorri levemente com o que disse e aproximei-me do lavatório, tal como ele, esticando-me depois para o armário. Eu comprava sempre uma escova a mais, para se fosse preciso substituir a que tinha. Sempre me ensinaram que uma mulher prevenida valia por duas.
- Toma.- agarrei na que tinha lá guardada, estendendo-lha.- fica esta a tua escova.- sorri-lhe.

Olhei para a escova que ela me estendia e agarrei na pasta de dentes, lavando os mesmos. Assim que estava com a boca como nova, virei-me para ela e agarrei-lhe pela cintura, puxando-a para que a beijasse, como nunca tinha beijado. Ainda não estava bem, ainda me sentia mal, mas aquilo era o que eu queria.

Descarreguei o autoclismo, ficando encostada à banheira enquanto ele lava os dentes e mal se virou para mim, puxando-me para ele, passei as mãos pelo seu peito com um sorriso, encostando o meu corpo ao seu para o beijar. Subi uma mão pela sua bochecha até ao seu cabelo, acariciando-o e fechei os olhos com um suspiro prazeroso, sentindo todo o meu corpo arrepiar-se com aquele beijo.

Afinal não tinha estado a alucinar, ela beija mesmo bem. Encostei a cabeça ao seu ombro, respirando fundo que o beijo cessou e abracei-me à sua cintura, segurando-me também nela - quero dormir - disse baixinho, já estava a ficar farto disto. Queria ficar bom de uma vez por todas.

Eu podia passar o dia naquilo, podia beijá-lo vezes e vezes sem conta, nunca me ia fartar nem dos seus lábios nem dos seus beijos. Beijei-lhe a testa assim que encostou a sua cabeça no meu ombro e abracei-me a ele, assentindo.
- Anda, vamos para o quarto.- agarrei na sua mão, afastando-me para o puxar e quando chegámos ao quarto, deitei-o na cama.

Agarrei-me a ela, indo de arrastão até ao seu quarto de novo e deitei-me na cama, agarrado a uma almofada, ainda não gostava dela, era dura e fria e eu tinha frio, e os suores ainda não tinham parado - encostas-te mim - puxei-a pelo pulso para que se deitasse ao meu lado e encostei a cabeça ao seu corpo, adormecendo que nem um anjinho.

Tapei-o, ajeitando a sua cabeça na almofada e quando senti a sua mão no meu pulso, deixei que me puxasse, deitando-me ao seu lado. Cheguei-me para ele, ficando encostadinha ao seu corpo, tal como ele me tinha pedido, e levei as mãos ao seu cabelo, pouco tempo demorando até ele adormecer. Sorri ao ouvir a sua respiração calma e beijei-lhe a cabeça, aconchegando-o nas mantas para que não tivesse frio. Fechei os olhos, com um suspiro cansado, e pouco demorei a adormecer também.

Revirei-me na cama e percebi que estava de costas para ela quando acordei. Suspirei agarrando-me à almofada gelada e estremeci. Eu detestava esta cama, já estava cheio de dores de costas. Queria o meu quarto, a minha casa. Suspirei ficando de olhos fechados. Tinha a casa cheia de droga. Estremeci só com o pensamento e dei por mim a imaginar de novo as sensações.