Quarto do Eric

A minha mãe foi todo o caminho a resmungar, dizia que eu não devia ser parvo, estúpido, cínico e bruto para as raparigas porque eu ainda ia acabar sozinho. Dizia que eu não ia ser novo para sempre e que morrer sozinho era pior do que os desgostos amorosos. Eu apenas revirava os olhos o que fazia com que ela reclamasse ainda mais. Quando chegámos a casa agarrei nas muletas e fui até ao quarto com cuidado, tanto para não cair, tanto para que ninguém reparasse que tinha chegado. Queria estar sozinho no meu quarto, por isso quando entrei fechei-me à chave.

Virei-me para o outro lado e assim que abri os olhos vi que era de noite. Já? Eu nem tinha adormecido, só tinha tentado. Passei uma mão pela cara e cobri-me com mantas fechando novamente os olhos concentrando-me para tentar dormir nem que fosse só cinco minutos.

Levantei a cabeça com a respiração toda desregulada e passei a mão pela cara ao mesmo tempo que senti as mãos de Rachel agarrarem-me nos braços. Engoli em seco tentando voltar a parecer normal e olhei-a tossicando.
-Não te assustes - disse ela de olhos arregalados.
-Não estou assustado, olá pequena - disse sentindo-a agarrar-se ao meu pescoço e voltei a deitar a cabeça na almofada agarrando nela.

Depois do banho tomado fui para o quarto vendo os meus irmãos sentados em cima da cama, todos arranjadinhos. Fiz uma careta tocando no laço do mais novo.
-Isto é um casamento ou coisa parecida? - perguntei sorrindo ao ver Rachel que estava adorável num vestido branco e uma flor na cabeça.
-Não sei, mas a mãe vestiu-nos assim, a tua roupa está ali - apontou para o sofá e não consegui evitar fazer uma careta começando a rir-me.
-Se ela pensa que eu vou andar com aquilo a noite toda está muito enganada.

-Opá estás calada ou não? - perguntei entrando no quarto e fechando a porta à chave antes que ela fugisse. Mandei-lhe o vestido novamente à cara e mandei-a para a casa de banho. - Veste-te de uma vez, depois dás-me o vestido, ou queres ir nua para a rua? Depois eu é que sou o maluco.

Cruzei os braços enquanto olhava para ele e encolhi os ombros - Não estou nua, estou de roupa interior. E eu sobrevivo até chegar a casa, não preciso dos teus vestidos. - atirei-lho de novo - Se gostas tanto dele fica já com ele. Não vás precisar de o vestir para o pequeno almoço de amanhã.

Passei as mãos pela cara e abanei a cabeça. Eu não tinha paciência para aquilo, estava demasiado irritado e desiludido com todos e ela ainda me irritava mais.
-Faz o que quiseres - disse destrancando a porta e abri-a para que saísse.

- Ainda bem. - controlei-me para não revirar os olhos e passei à frente dele quando abriu a porta do quarto. Voltei a descer as escadas e agarrei nas minhas coisas para sair dali de uma vez.

Revirei os olhos virando a cara dela e assim que saiu fechei a porta com força passando a mão pelo cabelo.
-Que raiva - disse baixinho abanando a cabeça com os olhos fechados, atirando-me para cima da cama.

Mordi o lábio enquanto olhava para o telemóvel. Tinha ido no carro dos meus tios e não havia outra forma de voltar. Olhei para trás de mim onde ficava a casa e suspirei. Ir de roupa interior a pé até casa não me parecia boa ideia. Voltei a subir as escadas e bati à porta do quarto dele.

Cerrei o maxilar abanando a cabeça, tinha que dar uma volta para espairecer. Levantei-me num salto e tirei a camisola e as calças. Olhei para a porta quando bateram e antes que entrassem vesti logo a camisola, acabando por fazê-lo ao contrário.
-O que é que foi? - perguntei esperando resposta de quem quer que fosse.

Abri ligeiramente a porta e meti a cabeça lá dentro ao fim de algum tempo - Desculpa.. mas será que podes.. - mordi o interior da bochecha quando o vi de camisa e de boxers. Ok.. Eu também não estava melhor - Hm, esquece. Desculpa.

Levei as mãos novamente ao cabelo e virei-me de costas agarrando noutra camisola.
-Queres o vestido não é? - perguntei e não lhe dei tempo, apenas lhe mandei o vestido - traz-lo bem, não o rasgues.

Revirei os olhos quando ele me atirou o vestido e abanei a cabeça. Entrei no quarto dele e pousei-o em cima da cama - Só precisava de boleia. Já disse que não quero a tua roupa preciosa.

Revirei os olhos quando agarrei no vestido de novo e coloquei-o em cima da cama direitinho, vendo que não estava rasgado, apenas sujo.
Fiquei a olhar para ela e levei a mão à minha roupa.
-Tenho que me vestir - disse e continuei a olha-la - se saísses dava mais jeito.

- Desculpa. - pedi suspirando de seguida - Deixa estar, eu vou a pé. - encolhi os ombros e fechei a porta do quarto dele depois de sair do mesmo. Desci as escadas e voltei agarrar nas minhas coisas para sair dali e ir para casa.

Fiz uma careta quando ela simplesmente disse que ia a pé e abanei a cabeça. Eu juro que pensava que estava maluco às vezes, mas acho que ela conseguia ser pior que eu. Vesti-me à pressa e desci as escadas à pressa agarrando-lhe no pulso quando a consegui alcançar.
-Pára de ser estúpida, eu levo-te - disse saindo de minha casa e fazendo com que ela entrasse na garagem.

- Obrigada. - disse pela parte em que ele me tinha chamado estúpida e não por me dar boleia. Segui-o até à garagem e cruzei os braços no peito enquanto o fazia.

Revirei os olhos abrindo-lhe a porta para o meu carro e dei a volta até ir sentar-me no meu lugar. Passei as mãos pelos olhos e suspirei endireitando-me. Meti o ar condicionado para aquecer o carro que estava gelado, por causa de ela estar quase nua, e arranquei sem saber para onde ela queria ir.

Entrei no carro dele e coloquei o cinto de segurança. Mordi o lábio inferior mas obtei por ficar calada e não lhe agradecer por me levar a casa.

Endireitei-me no banco do carro e estiquei-me até ao banco de trás mandando-lhe uma manta para cima.
-Ao menos tapa-te, as pessoas não têm que ver as tuas mamas - disse com um revirar de olhos. - onde é que vives já agora?

Agarrei-me à manta e encolhi os ombros - Só tu é que podes ver? - perguntei virando-me para ele - Eu não tenho culpa, sabes? Desculpa ter-te atirado o sumo para cima, desculpa ter batido no teu carro e desculpa que eles nos queiram casar. Já podes deixar de me falar assim? Parece que te quero matar ou sei lá. - aninhei-me na manta - Eu também não quero casar contigo e não me vês a tratar-te mal.

Revirei os olhos acelerando com o que disse e fiz uma careta quando começou a pedir excessivamente desculpa.
-Eu não estou a tratar mal, estou a perguntar onde é que é a tua casa - disse enquanto a olhava.

- Está bem. - disse apenas encolhendo os ombros. Apontei para a frente e agarrei-me melhor às mantas - Naquela rua.