Quarto da Camilla

Suspirei quando percebi que ele não ia responder à minha pergunta, mas acabei por deixar para depois, começando a puxá-lo para que saíssemos de casa.
- Obrigada.- murmurei baixinho, encostando-me ligeiramente a ele.- mas continuo a não gostar que gastes dinheiro comigo.- encolhi ligeiramente os ombros.

Encolhi ligeiramente os ombros. - Eu não me importo, eu faço tudo o que for preciso para que não estejas com os outros nojentos que se babam para vocês - disse olhando-a - não te preocupes com o meu dinheiro, ele não se esgota do nada. - passei a mão pela cabeça dela e puxei-a mais par amim. - eu não me importo - repeti.

Afastei-me dele apenas para agarrar na minha mala, mas rapidamente voltei a encostar-me ao seu corpo, saindo de casa a seu lado. Fechei a porta atrás de nós e encostei a cabeça no seu ombro enquanto andávamos.
- Está bem.- assenti. Hoje sentia-me em baixo e sem disposição nenhuma para ter de fazer todas aquelas coisas, só me apetecia ficar com ele, assim, agarradinha. Soltei um suspiro e abanei a cabeça, eu precisava de ganhar dinheiro, não me podia dar a esses luxos.

Olhei para ela quando a ouvi suspirar e abanar a cabeça e mordi o lábio com medo do que ela estivesse a pensar. Engoli em seco encostando-me mais a ela e fiquei a olhar a rua, tinha medo da rua, sinceramente, tinha mesmo muito medo. Havia sempre tantas coisas que eu queria e que não podia, tanta gente a chamar por mim. Mordi a parte de dentro da bochecha com força quando passámos pela zona onde tinha comprado a droga, que não sabia o que era, ao outro e ele estava lá. Pressionei um lábio no outro quando ele se levantou. - Então? Foi bom da outra vez? - olhei para Camilla e comecei a andar mais rápido.
-Anda - murmurei.

Acariciei a sua mão com o meu polegar e cheguei-me mais para ele, encolhendo-me assim que chegámos a uma rua mais sombria. Tinha mesmo mau aspecto. Cheguei-me mais para Fly, tentando sentir-me mais protegida e acho que nunca na minha vida me tinha apetecido tanto chegar ao bar. Levantei uma sobrancelha quando ouvi uma voz e virei a cara na direcção da mesma, vendo um rapaz dirigir-se a nós. Não tinha muito bom aspecto. Fiz uma careta, sentindo todos os músculos de Fly contraírem-se, mas quando ele falou, tudo fez sentido.
- Foi ele?

Passei a mão pelo cabelo como um tique nervoso e abanei a cabeça para dizer que não, mas não ia mentir mais. - Sim - murmurei apressando-me a entrar no bar, ficando no hall de entrada. - Queres que eu fique aqui? - perguntei não lhe dando tempo para dizer mais nada - eu posso ficar - encolhi os ombros baixando os olhar, só não queria estar na rua.

Cerrei o maxilar quando ele confirmou que tinha sido aquele rapaz e fechei a mão livre um punho, controlando-me para não voltar para trás. Se ao menos aquele gajo soubesse o mal que aquilo lhe tinha feito. Abanei a cabeça, soltando um suspiro pesado e abri a porta do bar, entrando com ele.
- Não precisas de ficar aqui.- murmurei, abanando a cabeça.- podes vir comigo, elas ainda não chegaram.- olhei em volta e puxei-o para que viesse comigo para o meu camarim.

Assenti com a cabeça mais aliviado por não ter que ficar na rua à espera e assim que percebi que tinhamos chegado ao seu camarim, fiquei a olhar para aquilo, mexendo nuns cabides que tinham a sua roupa - Posso escolher, ou é alguém que escolhe? - perguntei olhando-a. Queria esquecer que era um falhado e para isso tinha que a fazer esquecer que era um drogado.

Sorri enquanto ia encostado a ela. Ela gostava de mim, mas eu sabia que não era como eu gostava dela. Nunca tinha desejado tanto o seu quarto como agora. Deitei-me na sua cama que não era de todo confortável e lembrei-me que tinha fome. Levantei-me indo até à cozinha e olhei para ela, tirando apenas mais uma maça da fruteira, indo de novo até ao quarto.

Conduzi-o até ao quarto, visto que ele estava quase a dormir em pé e ajudei-o a deitar-se. Comecei a despir a minha roupa para vestir o pijama e quando olhei para trás, já ele não estava lá. Juntei as sobrancelhas, olhando em volta mas assim que ouvi barulho da cozinha, percebi que tinha ido buscar comida. Vesti o meu pijama, apanhando o cabelo num rabo de cavalo e sentei-me na cama, olhando-o quando voltou para o quarto.
- Não queres que eu te faça alguma coisa? - perguntei.- vais continuar com fome se só comeres isso.

Olhei para a maçã durante algum tempo quando me perguntou se queria que eu fizesse alguma coisa e só respondi alguns minutos depois - não sei - deitei-me colocando o resto da maçã em cima da mesa de cabeceira, adormecendo em alguns segundos. Eu sabia o que se estava a passar, a única diferença que havia aqui e no centro de reabilitação é que eles continuavam a dar-me droga até parar, para que eu não tivesse estes sintomas, que eram piores de que se estivesse drogado ou a morrer de overdose.

Fiquei a olhá-lo durante todo o tempo em que esteve em silêncio e a cada minuto que passava o meu coração apertava-se mais e mais com o seu estado. Eu nunca o tinha visto daquela forma.
- Eu vou fazer-te qualquer coisa.- murmurei depois de finalmente me ter respondido mas nem valeu a pena porque ele deitou-se e mal o fez, adormeceu. Passei as mãos pelo cabelo, apertando-o ligeiramente e senti-me tão incapaz que me apetecia...nada, não me apetecia nada. Aproximei-me dele, descalçando-o com cuidado para que não acordasse e despi-lhe apenas as calças, tapando-o depois. Deitei-lhe a cabeça na almofada e sentei-me ao pé dele, ficando a fazer-lhe festinhas.

Remexi-me na cama com um gemido e suspirei. O meu corpo doía, parecia que tinha feito um trabalho exaustivo no ginásio sem estar habituado. Abri os olhos devagarinho, pestanejando os olhos algumas vezes e sorri levemente ao ver Camilla. Passei as mãos pela minha cabeça de novo com os olhos fechados e comecei a queixar-me na minha língua materna.

Abri os olhos de repente mal ouvi o gemido de Fly e senti o meu coração ficar logo alterado, eu preocupava-me tanto com ele, não conseguia controlar-me. Desci o olhar para ele, tocando-lhe nos lábios quando me sorriu e suspirei, não percebendo nada do que dizia.
- Por mais sexy que eu acho o teu sotaque, não consigo ajudar-te se falares assim.- murmurei baixinho.

Ri-me roucamente com o que ela disse e abanei a cabeça com um meio sorriso - não precisas de saber o que estou a dizer - murmurei passando uma mão por cima da dela - eu estou bem, eu amanhã já estou melhor - garanti-lhe. Ou então não, ou então ia piorar até um dia ficar bem. Não.. eu nunca ia ficar bem.

Entrelacei os meus dedos nos seus, pousando as nossas mãos unidas no meu colo e encostei-me mais a ele, mostrando-lhe um meio sorriso.
- Mas eu gostava de perceber.- disse baixinho.- claro que vais.- não me perguntem a quem é que eu estava a tentar convencer.- eu vou cuidar de ti.

Fechei os olhos quando disse que ia cuidar de mim e sorri-lhe levemente, mas nem sei se o sorriso se notava. Engoli em seco quando me veio algo à cabeça e eu tive que me agarrar à cama para não sair de lá e ir buscar as coisas.
-Eu tenho droga nas calças. - murmurei olhando para o tecto. - Não há cor neste quarto - disse no mesmo tom, com um suspiro.

Acariciei a sua bochecha com as pontinhas dos dedos e tapei-o melhor, arregalando os olhos quando falou na droga. Cerrei o maxilar e levantei-me, pegando nas suas calças que estavam pousadas ao pé da cama. Enfiei as mãos nos bolsos, procurando e mal encontrei aquela porcaria, fui deitá-la pela sanita abaixo. Engoli em seco, virando costas e voltei para ele. No que dependesse de mim, não voltava a tocar naquilo, nunca mais. Voltei a sentar-me junto dele e olhei-o.
- Já não tens.- murmurei.

Sentei-me na cama quando ela foi às minhas calças e saiu porta fora, fiquei a olhar para a mesma até ela aparecer já de mãos vazias. Assenti com a cabeça quando disse que não tinha mais e saí da cama com cuidado, agora sabia que não podia ir buscar aquilo. - vou buscar alguma coisa para comer - disse encolhendo-me à medida que andava, estava a arrepiar-me todo com frio.

Fiquei a olhá-lo quando se levantou de repente e era para me levantar e ir atrás dele, mas ele precisava de se mexer e eu não queria que ele achasse que não conseguia fazer as coisas, porque conseguia. Recostei-me na cama e coloquei uma almofada atrás das costas, mordendo-me toda para não ir à cozinha.
- Vais ficar aqui Camilla.- falei sozinha.